Espírito protestante, educação e negócios em São Paulo do Século XIX

Dr. Antonio Maspoli

SINOPSE Este trabalho consiste na aplicação da teoria das representações sociais a fim de compreender a influência das crenças na educação em São Paulo em meados do século XIX e relacionar a contribuição das Escolas Presbiterianas fundadas neste período com a formação da mentalidade empresarial de São Paulo O autor buscar demonstrar que o Mackenzie College contribuiu de forma significativa para a formação do empresariado em São Paulo entre 1870 a 1914.

Palavras Chaves: Protestantismo, Ética Protestante; Educação; São Paulo; Max Weber; Mackenzie College; Mentalidade Empresarial

ABSTRAST This work consists in the application of the social representation theory in order to comprehend the influence of belief in the education in São Paulo in the middle of the XIX Century and also to relate the contribution of the Presbyterian Schools, founded in this same period, with the social construction of the entrepreneurial mentality of São Paulo. Demonstrate that the Mackenzie College contributed significantly to the formation of entrepreneurial in São Paulo between 1870 and 1914.

Keys: Protestantism; Protestant Ethics; Education; Saint Paul; Max Weber; Mackenzie College; Formation of Industrial Entrepreneurs.

  1. Introdução

Após a exaustiva leitura não foi difícil traçar os objetivos que nortearam esta pesquisa, dificílimo foi percorrer os caminhos necessários para atingi-los. Isto porque a educação brasileira até o século XIX ainda carece de uma historiografia mais consistente que ofereça ao pesquisador os elementos necessários a reconstrução dos fatos históricos em sua totalidade para possibilitar a sua compreensão de forma mais congruente.

* Antônio Maspoli de Araújo Gomes –Teólogo e Psicólogo. Doutor em Ciências da Religião pela UMESP. Tem Pós Doutorado pelo IEA da USP. Professor Titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Pesquisador Convidado do Laboratório de Psicologia Estudos da Religião do Instituto de Psicologia da USP.

O cenário que foi sendo desvelado ao longo deste trabalho demonstrou que o sistema econômico que imperava na colônia do Brasil prescindia da educação para o seu funcionamento e desenvolvimento porque dependia mais do trabalho braçal que da genialidade dos seus atores. A sustentação deste sistema econômico repousava numa sólida aliança entre os latifundiários e a coroa portuguesa e entre esta e a Igreja Católica Apostólica Romana.

A aliança entre a coroa portuguesa e os latifundiários garantia a monocultura de exportação, primeiro do açucar e posteriormente do café. Já a aliança entre a coroa portuguesa e a igreja através do padroado, instrumento este que foi confirmado por D. Pedro I e por D. Pedro II e que vigorou até a proclamação da república em 1889, oferecia a legitimação que aquele sistema de exploração carecia.

O padroado garantia dentre outras coisas a hegemonia da Igreja Católica na educação brasileira. Privilégio este que se manteve através dos tempos até a criação das escolas missionárias protestantes presbiteriana em meados do século XIX quando esta hegemonia foi quebrada pela ousadia dos missionários presbiterianos que pretendiam fundar nos trópicos o sistema educacional da igreja reformada segundo o qual ao lado de cada igreja deve haver uma escola.

A educação ministrada pelas ordens católicas que tomaram o lugar dos jesuítas após a reforma pombalina em 1759 continuou garantindo a formação de súditos cordatos e conformados a ordem estabelecida. Os esforços da Coroa para ilustrar o Brasil a partir da chegada da família real portuguesa em 1808, foram localizados na Bahia, no Rio de Janeiro em São Paulo e Pernambuco, no entanto tais esforços eram voltados para as próprias necessidades da Coroa, isto é, a formação mão de obra especializada destinada ao funcionalismo público que atendessem as necessidades do Estado Português. Médicos, advogados e engenheiros militares estavam na base do funcionalismo público de então e, por isso mesmo, este modelo educacional não incluía um projeto para a massa da população que continuou analfabeta e como bem demonstram o censo de 1872 quando aponta para altos índices de analfabetismo na cidade de São Paulo. Nesta cidade o analfabetismo beirava os 90 % apenas entre os homens livres, excluindo-se deste número os escravo que não eram poucos.

Analfabetos e excluídos não eram apenas os escravos negros. Havia brancos escravos, embora quase nenhum historiador faça menção eles. A gama de analfabetos compreendia aquela maioria absoluta da população empobrecida que dava sustentação ao modelo econômico baseado no extrativismo e numa agricultura voltada para a monocultura de exportação de produtos primários , como bem demonstrou Prado Júnior (1972) e Freire, (1993), inclusive em São Paulo como comprova o trabalho de Antônio Cândido, Os Parceiros de Rio Bonito, estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida.

Em face deste estado de coisas novos atores entram em cena para mudar este quadro. A bem da verdade havia no Brasil uma elite intelectual insatisfeita com o cenário econômico, político e educacional. Em São Paulo, já no primeiro quartel do Século XIX a Câmara da Província acolhera projeto de José Bonifácio de Andrada Silva e propunha a criação de uma Universidade que atendesse as necessidades de modernização e industrialização do pais, projeto este que só veio se concretizar na criação da Academia de Direito do pátio do colégio no Largo de São Francisco, na cidade de São Paulo em 1828, mesmo assim esta Academia, orgulho dos paulistas, nasce umbilicalmente ligada a Igreja Católica quer pela sua biblioteca que fora doada por um bispo falecido, quer pelo seu corpo de professores, em sua maioria ligados ao clero católico de São Paulo.

A Faculdade de ciências Jurídicas e Sociais do Largo de São Francisco formará grande juristas para todos os estados brasileiros. Este se transformam em grande tribunos e políticos nas Câmaras e Assembléias Provinciais ou na Federal. São os bacharéis dos quais falou Gilberto Freire em sua obra Casa grande e Senzala, (1977) responsável pelo avanço do nosso sistema jurídico mas responsáveis de igual modo pela nossa cultura bacharelesca sem nenhum sentido pragmático em sua aplicação.

Enquanto isto a Europa Protestante e os Estados Unidos praticamente já haviam erradicado o analfabetismo posto que precisavam ensinar a ler e a escrever aos seus cristão para que estes lessem a Bíblia. A leitura da Bíblia impulsionou o sistema educacional nestes países onde no mais das vezes as universidades começaram pela Faculdade de Teologia que davam origem as demais escolas que compõem uma universidade. Esta necessidade de formar cristão leitores aliado a uma economia industrial que carecia mais de cidadãos consumidores e livres que de súditos cordatos e conformado a vontade de Deus e do Rei produziu uma educação pragmática voltada para o domínio da natureza e suas leis. Este pragmatismo pouco afeito as questões filosóficas existenciais deu origem nas escolas missionárias presbiterianas a uma educação voltada para as necessidades do mercado. Em lugar da tradicional faculdade de filosofia eles irão criar as escolas de comércio, agronomia e engenharia mais apropriada as suas necessidades de livre comércio e mais afeitas ao fomento do capitalismo industrial.

A partir da Segunda metade do século XIX a vinda de levas de imigrantes, católicos em larga escala, e mesmo protestantes, em escala menor, impôs a necessidade de se criar um sistema educacional público e privado no pais capaz de dar conta da demanda por educação que as transformações sociais estavam a exigir e estas populações buscavam.

Os imigrantes protestantes não confiavam a educação de seus filhos a parcas escolas católicas existentes e nem estas aceitavam dissidentes do cristianismo ou mesmo do modelo político existentes no Brasil, por isso eram discriminados e excluídos das escolas católicas em São Paulo os filhos de protestantes, filhos de republicanos e de maçons. Estes grupos se constituíam numa parcela considerável da população paulista no último quartel do século XIX, quando foi criada em São Paulo, a Escola Americana. Esta escola atraiu os segmentos marginalizados pela religião oficial do estado que acorreram para a escola presbiteriana em São Paulo e outras em outras cidades onde foram fundadas escolas protestantes tais como Campinas, Sorocaba e mais tarde pára as escolas metodistas e batistas. Além dos segmentos marginalizados pela religião oficial foram atraídos também os filhos de imigrantes cujos pais se identificavam com os princípios da pedagogia protestante.

O projeto missionário presbiteriano de educação em São Paulo foi marcado desde o seu nascedouro por forte divergência quanto aos objetivos educacionais das escolas que estavam sendo fundadas. Uma corrente liderada por Simonton advogava a fundação de escolas segundo o modelo pietista, isto é, escolas destinadas à educação dos filhos dos crentes e dos mais pobres. Simonton nesta sua filosofia foi seguido posteriormente pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira, que defendia o mesmo modelo de escola missionária para a Escola Americana.

Um outro grupo queria que as escolas presbiterianas seguissem o modelo das escolas reformadas da Europa e dos Estados Unidos, ou seja, escolas liberais abertas a protestantes, católicos e judeus sem discriminação de cor, sexo, religião ou ideologia. Esta filosofia foi abraçada e defendida por Horace Lane quando da criação do Mackenzie College.

O Mackenzie College através do seu Curso de Formação de Professores, seu Curso de Comércio e de Engenharia será a ponta de lança das idéias econômicas liberais responsáveis pelo advento do capitalismo norte – americano. Estas idéias em São Paulo servirão de pólo de atração simbólica para os filhos das elites econômicas da emergente burguesia comercial de origem imigrante, de intelectuais republicanos e outros insatisfeitos com a educação que era ensinada em São Paulo.

Estes foram atraídos no início, menos por identificação do que pela necessidade. Contudo, pouco a pouco foram se dando conta de que o ideário protestante, presbiteriano atendia ao seus modelos de representação do mundo. Esta postura levou tais escolas a se transformarem nos grandes centros de embates do pensamento católico e protestante (Azevedo, 1963) e ainda a se tornarem nos grandes mercados das trocas simbólicas para usar uma expressão consagrada por Bordieu (1974).

Em se tratando da Escola Americana e do Mackenzie College em São Paulo, objetos desta pesquisa, outro fator de atração simbólica foi sem dúvida seu modelo educacional calcado no pragmatismo, que estava em plena ascensão nos Estados Unidos na época em que esta escola foi plantada no Brasil. Este modelo não se afastou muito de suas raízes calcadas no sistema de idéias que resultou do movimento renovador, iniciado nos Estados Unidos por William James, e teve em John Dewey, filósofo da educação a sua figura dominante. Longe de estabelecer uma ruptura com o passado, esse movimento foi favorecido e fecundado pelo progresso das ciências, retomou algumas das idéias principais da pedagogia protestante, deu-lhes fundamento mais sólido e mais preciso do que aquele preconizado por Comenius.

A influência do Mackenzie College na formação da mentalidade de uma elite empresarial em São Paulo entre 1870 e 1914 ocorreu de forma sistemática por meio do Curso de Comércio e do Curso de Engenharia. Nestes os rudimentos da economia liberal eram fartamente ensinados e pela primeira vez aqueles alunos interessados nos negócios da nação aprendiam a separar o lucro do capital. Estes alunos depois de formados foram pioneiros na administração racional de empresas públicas e de empreendimentos privados como ficou cabalmente demonstrados pelas análises e dados históricos e estatísticos coligidos nesta pesquisa. Por outro lado convém lembrar que por mais de cinqüenta anos a Escola de Engenharia do Mackenzie College formou mais da metade de todos os engenheiros registrados no CREA de São Paulo até 1960, como observou Oliveira, (1997).

A contribuição do Mackenzie College na formação da mentalidade do empresariado em São Paulo, no período em estudo, ocorreu não só pela preparação de mão de obra adequada à administração do capital, segundo os postulados da cultura protestante evidenciados por Weber, (1982). Este College agiu ainda como um pólo irradiador da filosofia industrialista norte – americana, através do Instituto de Desenvolvimento da Organização Racional do Trabalho (IDORT), e pelo desenvolvimento nos egressos da Escola de Engenharia do espírito empreendedor que germinou o moderno capitalismo ocidental.

Como foi demonstrado por Mendonça (1995) a criação e a expansão de um sistema educacional no Brasil, no século XX arrefeceu e mesmo minimizou a influência das escolas protestantes, presbiterianas, no ímpeto modernizador que sacudiu o Brasil na primeira metade do século XX, contudo não se deve desconsiderar a influência destas escolas na formação da mentalidade brasileira no período em apreço.

Este pesquisador registra que alguns aspectos importante foram surgindo ao longo deste trabalho que merecem o esclarecimento em outras pesquisas no futuro. Citamos alguns considerados heurísticos nesta campo: qual a relação entre o grupo de maçons que circulavam pela Escola de Engenharia do Mackenzie College, liderados por Cezário da Mota Júnior e a criação da Escola Politécnica? Qual a influência dos imigrantes na construção de um segmento de classe média urbana em São Paulo? Qual o papel desempenhado pelas mulheres na educação no Brasil Colonial? Que fatores levaram as mulheres, praticamente desconhecidas no magistério brasileiro no século XIX a assumirem a hegemonia desta profissão no século XX, a ponto desta profissão ser considerada hoje uma atividade feminina?

È neste cenário que se dará a inserção do protestantismo em Paulo e a contribuição protestante para a formação de uma mentalidade empresarial. Outros grupos religiosos contribuiram para o desenvolvimento desta importante província, especialmente os Católicos Romanos e os Judeus. Neste trabalho será focalizada apenas a participação protestante calvinista neste processo. O autor é presbiteriano é presta sua homenagem a São Paulo e a comunidade presbiteriana com esta modesta contribuição para os 450 anos desta complexa cidade.

3. A Educação Missionária Presbiteriana em São Paulo: uma escola ao lado de cada igreja

A cosmovisão presbiteriana obrigou no Brasil a prática protestante, desenvolvida na Europa e nos Estados Unidos, de fundar uma escola ao lado da igreja, onde quer que se formasse um núcleo de convertidos a fim de ensiná – los a leitura da Bíblia. Fundaram-se escolas paroquiais no Rio de Janeiro, Brotas – São Paulo, Campinas – São Paulo, São Paulo – São Paulo, Borda da Mata – Minas Gerais, São João do Rio Claro – São Paulo, Lorena – São Paulo, Petrópolis – Rio de Janeiro, Salvador – Bahia; escolas foram criadas em Pernambuco, e em outros lugares menos citados, todas com a mesma finalidade: ensinar o povo a ler para poder ler e compreender os ensinamentos bíblicos contido nas Sagradas Escrituras.

O mesmo projeto dos missionários presbiteriano do norte foi tentado pelos imigrantes sulistas que fundaram o Collegio Internacional de Campinas, em 1869 e inauguraram – no em 1873 . etc. As Escolas iam sendo fundadas onde eram plantadas as igrejas, assim os presbiterianos reproduziam a sua visão de mundo e produziam seus sistemas de vida por onde quer que se implantassem no Brasil. Recentemente o historiador Albino, (1996) apresentou sua dissertação de mestrado ao programa de História da Universidade de São Paulo sobre o Colégio Internacional a fim de demonstrar a presença protestante, presbiteriana confederada na cidade de Campinas durante os anos de 1869 a 1892.

A Bíblia era o epicentro do protestantismo especialmente aquele de cunho calvinista que deu origem a Igreja Presbiteriana no Brasil, o mesmo vale para esta igreja em São Paulo. A importância da leitura da Bíblia nos cultos desenvolveu nos missionários presbiterianos no Brasil um gérmen de projeto educacional vinculado à evangelização. Simonton (1867) apresenta um projeto ao Presbitério do Rio de Janeiro no qual afirmava que um dos métodos adequados para a evangelização do Brasil era a fundação de escolas paroquiais. Não era possível, do ponto de vista protestante, evangelizar analfabetos. A visão de Simonton sobre a educação brasileira era realista:

É de confessar que a educação há de encontrar grandes obstáculos provenientes de muitas causas. Muitos pais de família são descuidados a este respeito, nem querem fazer os sacrifícios preciosos para educar os seus filhos. Estes de sua parte, não estando acostumados a obedecer a seus pais, não gostam do regime da escola bem dirigida. Os costumes do país e a falta de confiança não permitem que uma escola central seja freqüentada por todos como sucede nos Estados Unidos. Faltam professores e professoras com a prática necessária para bem desempenharem esta missão e o governo ainda não admite a instrução e educação da nova geração. Sendo este meio indispensável, temos razão para esperar que Deus nos deparará os meios de atingi – los.” (Os Meios Próprios Para Plantar O Reino de Jesus Cristo no Brasil, Projeto apresentado ao Presbitério do Rio de Janeiro, na cidade do Rio de Janeiro, 16 de julho de 1867, p. 4).

4. A Escola Americana, a educalção republicana e o nascimento do Mackenzie College

Em São Paulo, o projeto de Simonton foi transformado em realidade por Chamberlain com a fundação da Escola Americana que nasce sob a égide de uma escola paroquial presbiteriana. A tradição afirma que, no ano de 1870, na cidade de São Paulo, a esposa do missionário presbiteriano norte-americano Dr. George W. Chamberlain, Mary Annesley Chamberlain, funda em sua própria casa, uma pequena escola primária, para atender aos alunos presbiterianos e alguns filhos de republicanos e outros abolicionistas, paulistas, impossibilitados de freqüentar as escolas públicas por motivos de intolerância religiosa e política. A pequena escola paroquial, iniciada em 1870 pela esposa do Rev. Chamberlain, seria o germe do futuro Mackenzie. ( Lessa, 1938; Garcez, 1970).

Os princípios que deveriam nortear a práxis pedagógica da Escola América são derivados do pragmatismo norte-americano. Stewart (1932) registra ainda outros aspectos importantes da compreensão educacional dos presbiterianos em São Paulo:

“Foram ainda consideradas duas outras questões: as de cor e sexo. Na persuasão de que as diferenças chamadas raciais são principalmente condições de educação e que a criança, seja qual fôr a sua côr, é essencialmente a mesma, nenhuma distinção se faz quanto à raça. E, crendo que os melhores resultados em tudo o que relaciona com o sexo se alcançam quando as relações de meninos e meninas se estabelecem em uma base de conhecimento mútuo e convivência natural, com as delimitações impostas pelas boas maneiras, e na crença de que o código social de um povo culto sempre oferece uma base para este tipo de organização, resolveu-se estabelecer a coeducação.”( Sic, Stewart, 1932, p. 7).

Posteriormente a Escola Americana, como era conhecida, recebe novo apoio do Board de Nova York, que resolve aprovar um plano educacional para o novo estabelecimento consubstanciado em quatro grandes temas. Fica resolvido que o colégio em organização teria um amplo programa de ensino que incluísse, além da Elementary School ,(curso primário), também o Secondary, abrangendo a Junior High School (ginásio), e a Senior High School (colégio), a fim de organizar um perfeito Prepraratory Course for College uma Scientific School (superior), (Garcez, 1970) . Em virtude das suas origens, dos métodos de ensino escolhidos e para distingui-la das demais, fica estabelecido que o nome da nova instituição será: Escola Americana. O nome Mackenzie só aparece em 1891 em virtude de uma doação feita por John Mackenzie, de Nova York.

O nome Mackenzie merece um esclarecimento, pois foi dado em homenagem ao cidadão Mackenzie. John T. Mackenzie era um menino de 12 anos, quando se deu a independência do Brasil, ele leu um escrito de José Bonifácio em que o grande brasileiro falava da necessidade do desenvolvimento da instrução popular no Brasil. Logo o menino pensou em seguir o magistério e consagrar-se ao ideal da educação daquele povo. Morreu-lhe, porém, logo o pai, cabendo-lhe o encargo da família. Malogrou-se por então o seu plano. Ao final da vida, porém, já bastante rico, o inteiraram da situação da Escola Americana de São Paulo, que contava com terreno suficiente, mas com falta de recursos para a construção de um edifício para o Curso Superior. John Mackenzie consagrou então 50 mil dólares para isso. Daí o nome conferido ao primeiro dos edifícios, o edifício em questão, a esquina da Rua Maria Antonia com a da Itambé. Este nome terminou por ser dado a própria instituição (Loureiro, s.d.).

Em carta datada de 04 de novembro de 1884, o Rev . Chamberlain convida Dr. Horace Lane, comerciante, educador e posteriormente médico e missionário para assumir a direção da Escola Americana, Lane prontamente aceita. Lane tornou-se o mentor e diretor do Mackenzie College por 30 anos. (Assis, 1997).

O governo republicano de São Paulo, em 1890, em virtude dos resultados conseguidos pela Escola Americana, toma-a como padrão de ensino primário e normal para as escolas públicas estaduais. Miss Marcia Browne e mais quatro professores, além do Dr. Horace Lane, são nomeados para o serviço público do Estado de São Paulo por lei especial, para orientar o seu ensino primário e normal, sendo o Dr. Lane considerado consultor educacional do governo. É o modelo da Escola Americana que dá origem ao conhecido grupo escolar. A Escola Americana, nessa época, era dirigida pelo Dr. Horace Lane e foi ele quem indicou ao educador republicano, Caetano de Campos, o nome de Miss Márcia Browne para dirigir a nascente Escola Modelo.(Rodrigues, 1930). A educadora Miss Browne contribuiu para a implantação do novo sistema pedagógico colaborando com a organização e direção de três escolas modelos em São Paulo. Além da escola – modelo Caetano de Campos, anexa à Escola Normal, onde foi a primeira diretora, também organizou e dirigiu as escolas – modelo do Carmo e da Luz.

A proclamação da república estabeleceu a separação legal entre a Igreja e o Estado, acabando de vez com os privilégios do padroado, e a adoção pela República Velha dos métodos pedagógicos, utilizados na Escola Americana, apareceu como um complicador na visão pragmática de Horace Lane. Em seu entendimento, a Escola Americana havia cumprido o seu papel, pois até a proclamação da república alimentara-se da oposição que alguns segmentos da sociedade paulista faziam à Igreja Católica Apostólica Romana.

“A uma pessoa que chegou do estrangeiro no anno de 1890, o Dr. Lane expoz a situação nestes termos: ‘A Escola foi fundada para dar aos paes opportunidades de exercerem a sua escolha em questões de con­sciencia. A Republica aboliu a interferência do clero nas escolas publicas e assim a principal razão de ser da nossa escola desapareceu. Mais ainda, o Estado adoptou os planos da Escola Ame­ricana e parece á primeira vista que toda a sua razão de ser des­appareceu. (…) No entanto, de, onde viriam os alumnos necessarios para que se mantivesse uma escola semelhante debaixo da novas condições da nação brasileira?’” ( Sic. Stewart, 1932, p. 11).

A solução para a continuidade da escola seria a reformulação dos objetivos educacionais da escola missionária, voltada para a evangelização e educação dos filhos da igreja para uma educação voltada para as necessidades do país. Esta mudança de objetivos educacionais da Escola Americana, de educação para evangelização para uma educação mais pragmática do Mackenzie College, voltada para a formação comercial e industrial, juntamente com disputas pessoais pelo poder político nos concílios da Igreja Presbiteriana no Brasil, envolvendo lideranças de pastores nacionais e missionários norte-americanos, representados pelos líderes Eduardo Carlos Pereira e Horace Lane.

Horace Lane apela para os seus amigos em Nova York. Já no ano de 1889, uma comissão de homens de negócios e educadores norte – americanos visitara São Paulo e recomendara o estabelecimento de cursos universitários suplementares à Escola Americana. Diversos homens proeminentes de Nova York e vizinhança formaram uma Junta de Síndicos com o fim de estabelecer no Brasil cursos acadêmicos nos moldes norte – americanos. No entanto havia séria barreiras legais a transpor. Consultando-se o Conselheiro Rui Barbosa, este informou que, de conformidade com a lei brasileira, não havia ma­neira pela qual a associação pudesse ser incorporada à legislação nacional, para regula­rizar o título das propriedades, contudo, recomendou a organização de uma corporação nos Estados Unidos com administração de seus bens no Brasil por meio de um procurador. Lane seguiu a orientação jurídica de Rui Barbosa. Seguindo com este con­selho, a Junta de Síndico solicitou a incorporação da Escola Americana à universidade do Estado de Nova York.

Em julho de 1889, reúne – se a Assembléia Geral da Igreja do Norte dos Estados Unidos e discute a criação de College em São Paulo. No mesmo ano de 1889, em novembro, o Board of Foreign Mission, de Nova York, envia uma comissão de educadores ao Brasil para constatar a possibilidade de se organizar esse “College”. O Dr. Goeroge Alexander, educador presbiteriano, preside a referida comissão. Diante da situação política reinante, Board of Foreign Mission, de Nova York aconselha que seja adiada a organização da Escola de Engenharia, até que o processo político brasileiro se defina. Em 1892, após a Proclamação da República e o advento de uma Constituição mais liberal quanto às questões religiosas, é autorizado o uso da verba destinada à referida Faculdade. Instala-se a Escola de Engenharia, em 1896, seguindo o modelo didático da Union University, jurisdicionada à University of the State of New York. No desenvolvimento do curso brasileiro, são observados os mesmos princípios da Universidade americana: teoria nunca separada da prática, laboratórios onde estudantes possam verificar pessoalmente a teoria estudada, trabalho de campo, professores com tempo integral e uso de especialistas para cursos que exigem preparo específico

A Universidade do Estado de Nova York concedeu carta de privilégio datada de 2 de novembro de 1895, substituindo a que fora, dada a título de experiência, em 9 de fevereiro de 1893, subordinando a colação de grau a parecer favorável, em cada caso particular, do fiscal daquela Univer­sidade. Para este cargo foi nomeado o Dr. Orville Derby, posto que ocupou até a ocasião de sua morte, sendo sucedido pelo Dr. George Krug e este pelo Dr. W. V. B. VanDyck, cuja atuação acabou no dia 30 de junho de 1927.

A sede do College, ainda por sugestão de Rui Barbosa, seria a cidade de Nova York por não haver sociedade similar na legislação brasileira. Também por sugestão de Rui Barbosa em 1889, a Board of Foreign Missions of the Presbyteriam Church deu permissão para que o College at São Paulo fosse incorporado pelo Board of Regents of the University of the State of New York para que os diplomas da Escola de Engenharia tivessem a fiscalização do Conselho do Ensino Superior do Estado de Nova York .

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5. A imagem protestante no Brasil de Tavares Bastos

Os americanos e em especial os protestantes norte – americanos, eram representados no Brasil do século XIX como pregoeiros do progresso e estes não somente reforçaram esta imagem, como a venderam em alguns meios intelectuais e políticos brasileiros. Tavares Bastos, dentre eles, destaca-se por diversas razões, este mais do que qualquer outro brasileiro, tinha um amor e uma admiração absolutamente irrestritos pelos Estados Unidos da América e pelas coisas americanas. Por outro lado, amava o progresso, a ponto de considerá – lo uma religião. Este amor aos Estados Unidos da América e ao progresso tecnológico levara – o a travar batalhas literárias e políticas por causas impopulares, tais como a abertura do Rio Amazonas ao tráfico internacional, livre comércio , a liberalização das leis comerciais, a descentralização do governo, e outras mais. Esta sua crença inexorável na necessidade de modernização do país o levou a tornar – se patrocinador das imigrações inglesa, americana e alemã, e defendia quaisquer que fossem as medidas que ajudassem as mesmas, tais como melhores meios de transporte internacional, casamento civil e liberdade ao culto. (Bastos, 1938)

Tavares Bastos formara-se Bacharel de Direito em 1859, com dezenove anos de idade. Entretanto, por insistência do amigo e professor, José Ferrão, e de outros permanecera mais um ano na Faculdade. Depois de defender sua tese, referente aos impostos, foi-lhe conferido o doutorado em Direito, com 20 anos de idade, logo após ter sido eleito deputado.

Através das Cartas do Solitário, a maioria delas, escritas entre janeiro e setembro de 1862, Tavares Bastos tornou-se uma celebridade na Corte. Nessas cartas, discutia diversos tópicos de interesse nacional, com ênfase especial nos seus temas prediletos : laisez faire, a abertura do Amazonas à navegação internacional, a imigração protestante e criação de uma linha de vapores de New York ao Rio de Janeiro.

“O remédio para todas as malezas do Brasil, de acordo com Tavares Bastos, era preparado com quatro ervas básicas do liberalismo : 1) o estabelecimento da mais ampla liberdade de comércio – o escritor admitia que era um grande adepto dos profetas britânicos do livre – tráfico, Jonh Bright e Richard Cobden, cujas as idéias eram, para ele, novo “Evangelho” da nova era de progresso; 2 ) o reconhecimento de que existia “uma divisão internacional natural do trabalho”, razão pela qual o Império deveria concentrar todos seus esforços em sua especialidade, ou seja, a agricultura. Para Tavares Bastos, entretanto, os dois mais importantes itens que, na sua opinião, trariam verdadeiramente o Brasil para o mundo civilizado eram; 3) abertura do Amazonas, e dos grandes rios brasileiros, aos navios de todas as nações e 4) uma mudança da alma brasileira que teria lugar através da abertura de portões do Império à imigração maciça de povos europeus principalmente e especialmente norte-americanos”. (Vieira, 1980, p. 101 )

Entretanto, o Brasil, para superar o atraso tecnológico em que se encontrava e alcançar o estágio de desenvolvimento desejado por Tavares Bastos, deveria abraçar o verdadeiro evangelho do progresso. Vieira (1980) observa que Bastos (1938) identificava na pregação protestante os princípios do progresso educacional, comercial e tecnológico que defendia:

“É interessante notar que, no pensamento de Tavares Bastos, o “evangelho” do livre comércio e do trabalho diligente predicado pelos ingleses Cobdem e Bright, parecia estar intimamente ligado com o Evangelho pregado pelos protestantes ingleses e americanos. Dever-se-ia mais uma vez notar que James Cooley Fhetcher, com ênfase no Evangelho cristão, também sustentava tais pontos de vista”. (Vieira, 1980, p. 102 ).

Tavares Bastos creditava o desenvolvimento norte americano a variável religiosa. Segundo ele a reforma protestante teria fecundado o espírito dos Estados Unidos com o liberalismo e com todas as virtudes do Evangelho gerando a opulência econômica e o sistema político daquela nação. É claro que sua análise é simplista, de um homem ilustrado , porém ambientado no Brasil do século XIX e despreza por exemplo a própria geografia e a geopolítica norte americana. Os estados Unidos é banhado por dois grandes oceanos: o Atlântico e o Pacífico, além de outras variáveis não menos importantes como a riqueza de petróleo, carvão, hidrovias , o destino manifesto, etc.

“Os inglezes, porém, cujos erros aliás não pretendo dissimular, os inglezes foram mais prudentes e justos a respeito de suas colonias. E é por isso que hoje ainda possuem um império tão vasto. Invoco a historia. Como é que uma simples colonia, a Nova- Inglaterra, pôde de repente transformar-se na poderosa, rica, vasta, ilustrada, livre, intelligente, generosa, audaz republica dos Estados-Unidos da América? Porque, desde os seus começos, desde a primeira povoação, fecundou-as o espirito liberal da reforma protestante, a moralidade, o amor ao trabalho, a intelligencia, a perseverança, a consciência da dignidade humana, e o zelo da independencia pessoal, que são o verbo do evangelho e constituem os grandes característicos das raças do norte do globo. Com effeito, em vez de supportarem a ignara opressão dos ridiculos capitães-mores e o fanatismo dos padres catholicos do século XVI, os Estados –Unidos foram povoados por quakers e outras seitas independentes, e governados por lords inglezes.(…) Com effeito, segundo cartas patentes emanadas de Carlos 1°, os primeiros fundadores das colonias tinham o direito de fazer leis, com o consentimento, assentimento e approvação dos habitantes livres das ditas provincias; seus sucessores gozariam dos mesmos direitos como si fossem nascidos em Inglaterra, possuindo toda as liberdades, fraquezas e privilegios correspondentes á qualidade de cidadãos inglezes. – Quanto ao commercio, sabe-se que nunca foi total nem geral nas colonias inglezeas os príncipio, hespanhol-portuguez, do monopolio da metropole.”(Sic Bastos, 1938, p. 391-392)

As circunstâncias históricas preparam um homem para desbravar o Brasil para o Evangelho. Fletcher, havia assumido em 1850 uma posição na União Cristã Americana e Estrangeira ( American and Foreigh Christian Union ), ofereceu-se para vir ao Brasil, sob auspícios coligados desta ( como missionário nomeado para servir aos americanos residentes no Brasil ) e as Sociedades de Amigos dos Marítimos. O novo capelão foi ordenado a 13 de fevereiro de 1851 pelo Presbitério de Muncie, Indiana.

No entanto o âmbito de atuação deste ministro presbiteriano extrapolou os limites dos arraiais religiosos. Formado pela Philiphs Exeter Academy, Brown University e Princeton Theological Seminary, Fletcher tinha também estudado na França e na Suíça por um ano. Na Suíça, casou-se com a filha de um teólogo calvinista César Malan. (Vieira, 1980)

Fletcher aceitou a nomeação da Sociedade Bíblica Americana para servir como agente no Brasil, aqui chegando em 1854. Apresentava – se na corte, ao Imperador e seus amigos, não como um propagandista religioso, ostensivamente distribuindo Bíblias e proselitista, mas como um amigo da nação, uma voz do progresso, que levava presentes para o Imperador e demonstrava interesse pela industrialização do país.

Fletcher não só disseminou Bíblias e tratados evangélicos, mas tornou – se um grande difusor do progresso científico e tecnológico, tendo realizado a primeira exposição industrial que se tem notícias no Brasil. O Correio Mercantil de 17 de maio de 1855, publica uma notícia importante sobre uma exposição industrial realizada por Fletcher no Rio de Janeiro. A exposição industrial foi aberta ao público por dois dias, foi um sucesso. A Sociedade de Estatística, reuniu-se no museu durante o evento, e seus presidente, o Visconde de Itaboraí, Inspetor Geral do recém estabelecido “Departamento de Educação Primária e Secundária”, pediu a Fhetcher para falar na reunião. Fletcher, nessa ocasião, ventilou seus planos e suas esperanças de ver o Brasil e os Estados Unidos mais intimamente unidos.

Fletcher também fazia contatos e atuava como uma espécie de representante comercial. Em 1862 levou consigo, para o Brasil, Jonh H. Lidgerwood, neto de Willian Van Vlieck Lidgerwood, fundador da Lidgerwood Manufatoring Companing de Now York. O Imperador registrou no seu diário que recebera Fletcher e Lidgerwood, e que Lidgerwood estava solicitando concessões para vender sua máquina de despolpar café, manufaturada com o nome de “Walker” (nome do inventor, Robert Porter Walker) que fora utilizada com muito êxito em Cuba.

Registra-se ainda que os imigrantes ingleses , norte – americanos e alemães que residiam no Rio e em São Paulo, geralmente ligados ao protestantismo, dominavam todo o mercado financeiro de então e o comércio de importação e exportação de produtos manufaturados que ainda não eram produzidos no Brasil. Este fenômeno ajudou também na construção de uma imagem de progresso para o protestantismo no Brasil de meados do século XIX.

6. O cenário do Desenvolvimento econômico brasileiro do século XIX

Prado Júnior (1963) sistematiza os aspectos importantes da formação econômica e étnica do Brasil contemporâneo em todos os seus aspectos. Neste estudo, serão enfocados alguns fatores da formação econômica do Brasil, que sirvam para situar a importância do Mackenzie College na construção das representações sociais de uma classe empresarial que contribuiria para o início do processo de industrialização do Brasil, marcando sua passagem de uma economia pré – capitalista, semi – feudal, de raízes agrárias, para o capitalismo industrial, ainda que incipiente, a partir de meados do século XIX e princípios do XX.

A entrada do Brasil no capitalismo industrial ocorreu tardiamente e por imposição da necessidade de ampliar o desenvolvimento da monocultura cafeeira e mesmo substituir esta cultura pela produção de produtos manufaturados e semi – manufaturados. Será este capitalismo industrial que assinala a consolidação do processo de mercantilização dos bens econômicos, e em particular da força de trabalho cuja inclusão generalizada no rol das mercadorias, e caracterização como tal, complementa aquele processo que assim penetra no mais íntimo da atividade econômica que são as relações de produção, produzindo em conseqüência a transformação generalizada da força de trabalho em produto.

A cultura cafeeira impôs a necessidade da modernização dos meios de transportes e trouxe de roldão o capital externo, o avanço tecnológico e as ferrovias. O grande cenário geográfico das lavouras cafeeiras não será o norte, ou o nordeste, ou o centro oeste, e sim os largos espaços do planalto paulista, situados mais para o interior e afastados no litoral, e que além de sua favorável topografia, apresentariam solos da mais alta qualidade, em particular, a famosa terra roxa. O que permitirá o acesso a essas regiões e o estabelecimento nelas de lavouras rentáveis e a custos sem paralelo em qualquer outro lugar (que foi o que assegurou o quase monopólio brasileiro, mais especificamente paulista) serão as estradas de ferro. A expansão cafeeira que marcará em todo centro – sul do país, particularmente em São Paulo, o avanço e instalação do povoamento se ligará de tal forma ao traçado das ferrovias (ou antes o inverso, pois são as ferrovias que acompanham a expansão), que as diferentes zonas em que se dividirá a Província será batizadas com o nome de linhas de estradas de ferro que as percorrem, nomes que conservarão até hoje: Paulista, Mogiana, Alta Paulista, Sorocabana, Noroeste, etc. Fato este talvez único em termos de taxionomia e toponímia:

“A economia cafeeira se fará também estímulo para a indústria manufatureira. É verdade que a produção do café não apresenta diretamente um poder germinativo apreciável. Já o notara Roberto Simonsem quando afirma que o cafeeiro é uma planta de caráter permanente que dispensa portanto instrumentos aratórios; e que o benefício e tratamento do produto se fazem em máquinas não só relativamente simples, mas em cuja composição entra mais madeira que metal, não constituindo por isso estímulo apreciável para a produção metalúrgica e mecânica que foram em toda parte os grandes incentivos básicos da industrialização. Doutro lado contudo, a produção do café impulsionou a fabricação daquelas máquinas de benefício e tratamento que atingiu bastante importância. Também deu lugar à nossa primeira grande indústria têxtil moderna: a da fiação e tecelagem da juta empregada na sacaria em que o café é acondicionado para a exportação.” (Prado Júnior, 1972, p. 66 e 67)

O câmbio ocorrido na produção e transporte do café culminam por tensionar pela modificação das relações de trabalho. É preciso observar porém que a demanda da lavoura cafeeira não se achava satisfeita. A exigência de braços que impunha o rápido e intensivo crescimento dela não tinha limites. Era preciso uma solução mais ampla e radical. Ela será procurada na imigração européia depois de uma abortada tentativa de trazer asiáticos que não foi por diante devido à oposição da Grã-Bretanha. A imigração européia não foi assim, entre nós, fato expontâneo e natural, como procura demonstrar a tradição. Aqui ela foi provocada, estimulada, planificada e deliberadamente promovida. E até mesmo, em boa parte, subvencionada, pagando-se a passagem e demais despesas dos imigrantes desde seu lugar de origem até as fazendas. (Kidder e Fletcher, 1941)

A entrada de capital externo, o avanço da tecnologia com as estradas de ferro e a transformação das relações de trabalho que daí advieram produziram a imigração e a abolição dos escravos. A abolição e a imigração terão conseqüências de ordem econômica da maior importância e de considerável impacto, que vêm a ser o impulso que trazem para a ampliação do consumo de bens econômicos e crescimento no mercado interno. A abolição, porque prometia transformar os escravos em livres vendedores de força de trabalho, e portanto detentores de dinheiro, gerando milhares de novos compradores, além dos cangaceiros e fanáticos do Rui Facó. Estes novos compradores representaram uma injeção econômica numa população total do país que andava em torno de 10 milhões. A imigração, por sua vez, porque é de europeus que, embora originários sobretudo de regiões relativamente pobres e de baixo nível econômico, introduzem no Brasil padrões de comportamento, educacionais e de consumo de ordem consideravelmente superior à presente na massa trabalhadora do país como observou Fausto (1997) . Facó, registra a intensidade do fluxo migratório externo para o Brasil em meados do século XIX:

“O fluxo de imigrantes estrangeiros, quase nulo na década de 70 do século XIX (menos de 50 mil imigrantes numa década inteira), elevava-se a mais de 260 mil no decênio seguinte e atinge 650 mil na década de 90. Constitui, por si só, um peso considerável na vida econômica do País cuja população não passava então de 15 milhões de habitantes.” (Facó,1964, p.74).

No princípio do século XX o Brasil ensaia sua entrada na sociedade capitalista industrial com o surgimento de um incipiente mercado interno. Neste momento ocorre um incremento das iniciativas industriais, produzindo uma sacudidela, um poderoso estímulo em toda a economia nacional. Era o capitalismo que tentava mais uma vez impor sua presença na economia e na sociedade brasileira, o primeiro grande impulso que se verificava desde as malogradas tentativas encabeçadas pelo Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, nos meados do século XIX. A burguesia comercial emergente procurava tomar iniciativa no domínio econômico, não obstante o enorme obstáculo que se levantava diante dela: a grande propriedade territorial, pré – capitalista, resistido a qualquer forma de mudança, porque conservava sua produção voltada unicamente para o mercado externo. É verdade que grande parte dessa burguesia industrial nasce umbilicalmente ligada ao latifúndio semi – feudal, mas, até mesmo, por instinto de sobrevivência, ela reconhecia que, sem se operarem modificações na estrutura agrária, nem que fosse contornado-a, ou adaptando-a às novas condições, a industrialização estaria condenada ao malogro, seus objetivos limitado, seu campo de ação reduzido.

As tensões internacionais dos primórdios do século XX ditaram o ritmo do desenvolvimento econômico brasileiro.l, determinando uma série de restrições ao comércio exterior, forçando a fundação de novas indústrias, ainda que de bens de consumo, na sua quase totalidade. Para se ter uma idéia desse surto industrial basta dizer que no último ano da Monarquia, 1889, existiam 636 industrias no país. Em 1907 o censo industrial registra um total de 150.841 operários no Brasil. O fato é que, em 1920, o operariado brasileiro tinha quase sextuplicado seus efetivos, em relação à época da Proclamação da República, atingindo, aproximadamente, a casa dos 300 000. O esmigalhado parque industrial brasileiro ver entrar em funcionamento, somente entre 1915 a 1919, cerca de seis mil novas empresas industriais. (Facó, 1964, p.176-177; Vita, 1968, p. 193)

A industrialização do Brasil e o seu crescimento industrial processou-se através de surtos descontínuos desde os fins do século XIX. Estes surtos relacionaram-se, como é sabido, com a consciência entre as disponibilidades de capital e os momentos da conjuntura econômica favoráveis a exportação de mercadorias e matérias primas consumidas no mercado externo, gerando uma dependência crônica da economia do país aos humores das metrópole econômica, sejam New York ou Wall Street. A fim de dar sustentação a este desenvolvimento e crescimento industrial o Brasil carecia de Escolas capazes de formar uma elite empresarial com formação suficiente para administrar suas fábricas, seus bancos e suas companhias que iam nascendo aos montes neste período da história econômica do país.

7. Primórdios do Mackenzie College

A Província de São Paulo”, de 13 de Fevereiro de 1894, noticiava o lançamento da pedra fundamental da Escola de Engenharia do Mackenzie College. Precisamente na esquina da Rua Itambé, com a rua Maria Antônia. Esse cruzamento, no alto de Higienópolis, ficou congestionado de pessoas que se dirigiram para lá no dia 11 de fevereiro de 1894. Ao meio dia, deu-se a celebração oficial com o discurso de importantes personalidades públicas. Cezário da Motta Júnior, ministro do interior, representando o Presidente do Estado, falou em nome deste. Estavam presentes também o Presidente do Senado Estadual, Senador Guimarães Júnior, o presidente da Câmara de deputados de São Paulo, Luiz Pisa, e o presidente da Câmara Municipal, Pedro Vicente. Ao lado de outras autoridades civis, dos pais de alunos, dos alunos e dos missionários protestantes. Na pedra fundamental foram colocados:

“Dentro da pedra em uma lata fechada foram collocados dois volumes da Biblia, a constituição estadual, várias memórias, diversos jornaes, moedas do pais e uma nota da solenidade lavrada pelo capitão Ferreira Lopes e assignadas pelas pessoas presentes.” (Sic. A Provincia de S.Paulo, 13 de fevereiro de 1894).

No desenvolvimento do College no Brasil, foram obser­vados os mesmos princípios da Universidade: teoria nunca separada da prática; laboratórios onde o estudante pudesse verificar pessoal­mente a teoria estudada; trabalho campal, onde, para estudar, os problemas da matéria; o emprego de professores que dedicavam todo o seu tempo ao ensino, a fim de que se pudesse pôr nas mãos de um só lente, que desenvolvesse no grupo como um todo, os assuntos relacionados a teoria e a prática; o aproveitamento, para assuntos especializados, dos serviços de profissionais especialistas, que pudessem ceder uma parte do seu tempo à instrução. (Stewart, 1932, p. 22).

Tendo o Prof. Dr. Horáce Manley Lane (1837/1912), como seu fundador o engenheiro Dr. William A. Wadell, seu primeiro diretor, o Curso de Engenharia foi finalmente instalada, em fevereiro de 1896, com a matrí­cula de sete alunos para o primeiro ano, formando sua primeira turma de engenheiros diplomados em 23 de agosto de 1900, constituída por dois formandos: Alexandre Mariano Cococi e Alexandre Maurício Oreochia, que, mais tarde, seriam professores da Escola de Engenharia

Os professores da Escola Americana, quando da sua fundação em 1870, foram recrutados em sua totalidade entre os leigos das igrejas presbiterianas de São Paulo e entre os pastores daquelas igrejas. Já os professores do Mackenzie College são recrutados, quase que em sus totalidade, nas grandes universidades do exterior. Não é forçoso afirmar que tais professores importavam das nações industrializadas de então os ingredientes que fortalecesse o arcabouço teórico, a filosofia, a estrutura ideológica da do Mackenzie College e que a ideologia trazida por tais professores favorecia a formação de uma classe empresarial no Brasil, pois oferecia a ideologia, os instrumentos teóricos necessários, a construção de uma ética empresarial. (Propespecto da escola de Engenharia do Mackenzie College, 1931;)

A primeira congregação de professores do Mackenzie College em 1897, sendo também a primeira de uma escola particular de nível superior no Brasil, era assim constituída: Dr. Horário M. Lane (presidente do College); Dr. W. A. Wadell (diretor da Escola de Engenharia), Augustus F. Shaw (Deão), Seth Moody (secretário); e os professores A. Thiré, Barros Barreto, Henry Evveret, R. W. Fenn, Georg Krug, Santos Saraiva, Philippe Lorenzi e Eduardo Waller. Em 1908, o Mackenzie College contava com a seguinte congregação:

Horace M. Lane, M.D. L.L.D. President; A . Cownley Slater, B.Sc. Leeds; Dean. Ver. Bryce W. Ranken, Evangelical Mission; Alfred Anderson, B. A . Augustana, Acting Secretary; Rev . M.P.B. Carvalhosa, Presbyteriuan Mission, Chaplain; Dr. Antonio Barros Barreto,(Capt.) Brazilian Naval school;Dr. L. Job Lane, B.S. M.D. Union Un. Penn; H. Ernest Caperan, B. Lit. Univ. Toulouse; Henry L. Everett, M. Haward. Sig; Cesar Antonelli, B. L. Un. Naples; H. Jean Buff, C.E. Un. Zurich; Haroidl McIntosh, C.E. Lehigh; Arthur A . Davis, C.E. Un. Lehigh; Dr. Antonio teixeira da Silva, D.L. S. Paulo Law Shool; George Edward Stwart. B. Sc. Lseds; Snr. Alvaro Guerra, Lit. D.Snr; Oscar Campello; Miss. Margaret Cole,(Feminine Section,mission trianing School, Adelaide.”(Sic. Lane, To The Trustees of MACKENZIE COLLEGE. S. Paulo – Brazil, New York, S. Paulo, December, 1908).

A gestão William Wadell foi marcada pela expansão do Mackenzie College. O surto industrial de São Paulo cria a necessidade de um Curso de Química Industrial destinado ao preparo de técnicos industriais de grau médio muito em voga, então na velha Inglaterra. Era um curso de dois anos, após o término do curso ginasial. Em 1915 o Curso de Química Industrial foi anexado à Escola de Engenharia, com duração de 3 anos. Formou-se a primeira turma em 1917. Foram três os primeiros químicos industriais diplomados: Alfredo A. Borges, Paulo Lotufo e Reynaldo Steidel. Em 1922 o curso foi substituído pelo de Engenheiros Químicos. A Escola de Engenharia continuou em expansão. Em 1917 o Arquiteto Paulista Christiano Stockler, formado pela Universidade da Pensilvâlnia, nos Estados Unidos, organiza o Curso de Arquitetura, sendo também esta a primeira faculdade de arquitetura fundada em São Paulo. A partir de 1914, o Mackenzie College começa a ensinar engenharia militar e em 1924 cria o curso de Engenharia de Aplicações Militares. Em 1918, o Curso de Engenheiros Eletricistas da antiga escola de engenharia iria transformar – se em curso de Engenheiros Mecânicos Eletricistas, para atender à demanda do perfil industrial que se desenhava na cidade de São Paulo que passou a carecer de engenheiros elétricos e mecânicos.

8. O Mackenzie College e a formação do empresariado de São Paulo

A classe empresarial pode ser compreendida pelos donos do capital, os capitalistas, e os capitães da empresa, os empresários que nem sempre são os donos do negócio. A classe empresarial formada por dirigentes de empresas, excluindo-se os donos do capital, começa a surgir no Brasil a partir da criação de um parque industrial em meados do século XIX e se amplia a partir do surto desenvolvimentista produzido pela Primeira Guerra Mundial. Depois da primeira guerra mundial, somaram-se a estes núcleos básicos novos grupos sociais que impulsionaram o prosseguimento da industrialização.

Existem poucos estudos sobre as origens do empresariado industrial brasileiro. Duas correntes teóricas procuram explicar a origem deste empresariado, a primeira liderada por Lobo (1978) que acredita que a gênese da classe empresarial encontra – se nas elites cafeeiras do país, todavia esta versão é negado por Prado Júnior,( 1963) para quem estas elites foram um entrave a entrada do Brasil no capitalismo industrial, retardando o surgimento de uma classe empresarial no país nos moldes capitalista modernos.

Fernando Henrique Cardoso, em sua tese de livre docência apresentada a USP em novembro de 1963 discute as origens do empresariado industrial brasileiro afirmando que o mesmo surge longe das famílias ligadas a produção e ao comércio do café, relacionando os com a burguesia comercial, de origem imigrante, que surgiu no Brasil no início do século XX. Afirma Cardoso:

“De fato, considerando – se os pólos extremos da estratificação social dos industriais brasileiros tem – se, num lado, grupos de imigrantes, noutro, segmentos das antigas camadas senhoriais que se dedicavam a agricultura ou à exportação. O primeiro grupo supera em número o segundo, por causa da concentração industrial nas áreas de imigração do centro sul, mas a influência política do segundo grupo é muito grande até hoje. Depois da guerra, somaram – se a estes núcleos básicos novos grupos sociais que impulsionaram o prosseguimento da industrialização. O desenvolvimento acelerado a partir de então possibilitou que se recrutassem industriais nas camadas médias da população urbana: descendentes de velhas famílias de “tradição,” mas sem posses, que se ligaram ao funcionalismo público e reencontraram possibilidades de êxito econômico no último surto de industrialização: descendentes de imigrantes já adestrados em ofício tipicamente urbanos, como o comércio, que foram atraídos para a industria pelos altos lucros do período da guerra e do pós – guerra; imigrantes que se dedicavam nos países de origem ao comércio ou a profissões urbanas (Técnicos) e que fugiram da guerra e do totalitarismo, etc.” ( Cardoso, 1964, p. 160)

Seguindo a sua intuição, Bresser Pereira realizou um survey sobre as origens do empresariado brasileiro, especialmente do paulista, e corroborou as idéias de Fernando Henrique Cardoso. Os resultados do trabalho de Pereira (1996) estão abaixo transcritos:

“O caráter histórico do survey foi garantido por­que em 1962 estávamos ainda próximos ao início da industrializa­ção brasileira, que realmente deslanchou em São Paulo após 1930; e principalmente porque indagávamos sobre o empresário que ha­via fundado ou desenvolvido decisivamente sua empresa. Dos 204 empresários sobre os quais se levantaram dados, cerca de 10 por cento estavam mortos ou aposentados na época da pesquisa; 82,8 por cento fundaram a empresa.

Os resultados em relação às origens étnicas dos empresários paulistas foram claríssimos. Conforme pode – se observar, apenas 15,7 por cento tinham origem brasileira. Entre os de ori­gem estrangeira, somando 84,3 por cento, 49,5 por cento do total eram eles próprios estrangeiros; os demais 34,8 por cento, filhos ou netos de estrangeiros. Verificamos que, quanto à ori­gem nacional ou étnica, predominaram os empresários de origem italiana, com 34,8 por cento. Em seguida vêm os de origem brasilei­ra (15,7 por cento), alemã ou austríaca (12,8 por cento), portuguesa (11,8 por cento) e árabe (9,8 por cento). As origens sociais dos empresários industriais paulistas são tam­bém claras. Apenas 3,9 por cento tiveram origem nas famílias “aris­tocráticas” ligadas ao comércio e à produção do café. Originados na classe alta inferior, constituída por famílias ricas mas sem ori­gens nos barões do café, tivemos 21,6 por cento dos empresários. Na classe média superior, definida pela situação econômica média da família na época da infância ou adolescência do empresário e pela educação de nível superior do pai, tivemos apenas 7,8 por cen­to. Nas classes médias propriamente ditas, formadas principalmente por pequenos e médios empresários, originaram-se 50 por cento, enquanto apenas 16,7 por cento originavam-se na classe baixa, constituída principalmente por famílias pobres nas quais o pai tinha geralmente uma profissão braçal.” ( Pereira, 1996, p. 146).

Esta pesquisa não deixa, portanto, qualquer dúvida. Os empre­sários industriais do Estado de São Paulo, onde se concentrou a industrialização brasileira, não se originaram, em sua grande maioria, nas famílias dos barões do café. Estes acreditavam numa espécie de destinação divina do país ara a agricultura. O empresariado paulista Originou-se em famílias descendentes de imigrantes principalmente de classe média em formação e ascenção

Até a primeira guerra mundial, o padrão mais difundido de direção de empreendimentos no Brasil era baseado na autoridade obtida pelo controle da propriedade. Entretanto, as propriedades das empresas se restringe, em geral, aos grupos familiares, e este padrão de controle dos empreendimentos implica na intromissão dos proprietários em decisões que ultrapassam o limite natural de ingerência dos acionistas nas empresas nos países desenvolvidos. Esta forma de gerenciamento, geralmente fundamentada no mito do herói , era um entrave, não só a formação de uma classe empresarial cientificamente preparada mas um grande risco para a própria continuidade do empreendimento daí ouvir – se, ainda hoje, em São Paulo uma expressão interessante que afirma: “Avó rico, filho nobre, neto pobre.”(ad tempora), o que sugere que o empreendimento econômico e a empresa brasileira tem vida relativamente curta quando comparadas com as similares européias e norte – americanas.

Poder-se-ia pensar que este tipo de gerenciamento empresarial existia apenas nas áreas mais atrasadas do ponto de vista industrial, de predominância do patriarcalismo agrário, como o norte e o nordeste, contudo, a análise de empresas de São Paulo e

Blumenau, realizadas por Cardoso (1964), demonstrou que as empresas continuavam controladas por famílias de imigrantes e seus descendentes, o mito do herói empreendedor que implantou o pequeno negócio hoje transformado em grande empresa mantinha-se ativo como uma forma de saudosismo que repercute e exprime a orientação geral das famílias proprietárias. O êxito empresarial e a prosperidade da empresa eram vistos por muitos empresários como resultado da herança social dos ancestrais e do apoio de amigos de família, sem que se faça nenhuma referência a fatores objetivos como análise do mercado, risco do investimento etc.

A formação científica da classe empresarial brasileira, baseada na racionalidade metódica do trabalho, transmitida pela educação sistemática, apareceu no Brasil como uma resposta a situações criadas por grupos sociais os mais diversos: os empresários, as elites intelectuais, as escolas protestantes; ou como imposição para um projeto de criação de novos cenários econômicos a partir dos interesses da emergente burguesia comercial e pela imposição do mercado externo e interno. Cardoso ( 1964 ):

“Com efeito, a burocratização das empresas, decorrente da racionalização crescente imposta pela civilização industrial, redefiniu as técnicas de comando e de controle postas em prática nas organizações econômicas. Da mesma maneira, os moldes da moderna capitalização quebraram o controle acionário total das empresas de grupos familiares. Entretanto, depoimentos e estudos recentes tem mostrado que a liberdade de decisão dos managers é controlada pelos grupos acionários que detem a propriedade, embora o mecanismo de autoridade seja muito mais complexo que no período do “capitalismo empresarial”. (Cardoso, 1964.

Os administradores cientificamente preparados são uma imposição do capitalismo industrial. Neste sentido, novos tipos de homem são requeridos, a filosofia ex – machine, “o homem certo no lugar certo” é entronizada. Isto é, para o desempenho dos papéis atualmente necessários para a continuação do sistema, são postos em prática novos canais de seleção das elites dirigentes dentro da camada proprietária e a cooptação de outros tantos na classe média, e para garantir o sucesso desta empreitada surgem novas técnicas de socialização para o adestramento social dos homens de negócios. Operando numa sociedade em que a esfera racionalizada da vida social é crescente – onde, portanto, a regulamentação formal e espontânea se constitui nos riscos de ajustamentos automáticos do mercado concorrencial, o empreendedor moderno cumpre duplamente a função de inovar para obter lucros. Mantém, nos moldes de criação possíveis, na era da planificação, o élan necessário para estar à frente dos concorrentes quando eles existem. Mas, principalmente, cria condições insuspeitas para o influir sobre a política econômica visando assegurar a prosperidade capitalista em geral e reservar a maior porção dos contratos e privilégios governamentais para a sua organização.

A criação do Mackenzie College insere-se, portanto, neste ciclo de desenvolvimento educacional e industrial. A sua importância decorre de ter repartido com a Politécnica de São Paulo, o privilégio de contribuir para a formação do empresariado de São Paulo a partir do paradigma protestante, presbiteriano, oriundo da cultura norte – americano.

Esta contribuição do Mackenzie College foi mais significativa através do seu Curso Engenharia que veio a tornar-se realidade em fevereiro de 1896, quando foram iniciadas as suas atividades – dois anos depois da Escola Politécnica de São Paulo, ambas nos primórdios da República. (Steawart, 1932)

9.A filosofia educacional do Mackenzie College.

Francisco Salles de Oliveira, (diretor da Escola de Engenharia de 26/1/34 a 6/8/38) pode ser considerado um expoente da filosofia do Mackenzie College. Nasceu em São Paulo, a 10 de outubro de 1892. Completou no Mackenzie College o Curso Comercial em 1908, o Curso de Madureza em 1910, e fez o primeiro semestre do Curso de Engenharia em 1911. Transferiu-se no segundo semestre para os Estados Unidos, tendo feito três anos do Curso de Engenharia de Eletricidade, em Union College (1912 a 1914). Completou, em 1916, o Curso de Engenharia no Sheffield Scientific School, da Universidade de Yale, recebeu o grau de Bacharel em Philosofia e em Engenharia de Eletricidade. Diretor da Primeira Divisão e Membro de Comissão de Produção do Instituto de Organização Racional do Trabalho, “IDORT”. Sócio e membro da direção geral da Typographia Siqueira. Foi também diretor da Escola de Engenharia Mackenzie.

A literatura sobre a filosofia educacional do Mackenzie College é escassa. Todavia em 1938 foi publicado no Anuário da Escola de Engenharia Mackenzie, boletim oficial daquela instituição, uma síntese do pensamento do seu diretor à época, Francisco Salles de Oliveira que reflete no seu conjunto a filosofia título sugestivo de Educação e Organização Científica do Trabalho, o autor afirma que o Mackenzie College estava voltado para:

“a formação regular de administradores e organizadores, seja para a direção dos organismos oficiais de planejamento, controle e execução, ou dos demais serviços auxiliares no campo da educação e da cultura, seja para a direção das próprias instituições que se propõem diretamente a atender as necessidades culturais educacionais do meio.” (Oliveira, 1938 p. 131)

A análise do texto de Oliveira (1938) demonstra que o Mackenzie College havia assimilado a racionalidade metódica, da ética protestante norte americana, propugnada por Weber em sua tese sobre a influência da ética protestante sobre a construção do capitalismo ocidental (1994), diz ele:.

“A primeira missão, de tão altos atrativos educacionais, iniciativa a manter e honrar numa orientação tradicional, com o objetivo imediato de ministrar um ensino técnico de ordem igual ou superior ao de qualquer outra escola de engenharia do país, ou do estrangeiro. Programas inteiros foram revistos, com a colaboração da Congregação, para que o ensino se nivelasse com as necessidades de nosso Estado, correspondendo as exigências do meio ambiente e satisfazendo a doutrina da evolução da sociedade, que prevê modificações dentro dos grupos que a constituem, como também dos indivíduos isoladamente, facultando maior elasticidade a sua organização.” (Oliveira, 1938, p. 134)

O Mackenzie College é uma escola pragmática. Seu pragmatismo é explicitado pela hegemonia do modelo de ensino norte – americano, utilitarista, em sua filosofia educacional:

“Pequena universidade, de que não tem a amplitude mas possui os delineamentos gerais, o Mackenzie College é uma das grandes instituições humanas da pedagogia dos nossos tempos. E, se constitui um sistema de escolas e não uma só escola, corresponde também a um sistema de idéias, a uma pedagogia só, a uma filosofia da vida. As idéias, são as que, de meados do século passado até nossos dias transformaram a face da terra. A pedagogia é aquela cujas origens vão enraizar-se na velha Inglaterra, a grande mestra dos povos modernos e cujo tronco, renovado e possante, emergiu das energias da América. Nada se lhe pode objetivar, fundada que é na sua energia moral e processada sob todos os pontos de vista, através do método experimental. A filosofia é a do dinamismo construtivo em todas as esferas, a do entusiasma sadio, que quer “fazer” e, para isso “saber fazer” e “fazer bem feito”, o que significa combater o mal e promover o bem.” (Oliveira, 1938, p. 134)

Este caráter pragmático da educação veiculada pela escola de Engenharia do Mackenzie College produziu uma filosofia de educação mais preocupada com a produção do saber, do fazer do que com a teorização do saber. Os estudantes do Mackenzie College tornaram – se conhecidos, respeitados e aceitos porque sabiam fazer jamais por serem grandes teóricos.

“Objetivando a educação e o desenvolvimento das faculdades individuais, devia ela segundo Spencer também processar a adaptação física, moral e social do indivíduo e revestir-se acima de tudo, de um carretar de utilidade, não só em relação a ele próprio como em relação a sociedade. Este utilitarismo cuja finalidade era aparelhar o indivíduo para a luta pela vida, o que se conseguiria com o estudo especializado das ciências que constituem a base das diversas profissões. Daí a criação do ensino técnico, profissional e artístico com as quais se substituem os processos empíricos e rotineiros, pelos absolutamente científicos.

A cultura “material” visa preparar o estudante no sentido de torná-lo útil a sociedade, transformando os seus conhecimentos em “instrumental”, com o qual aplica a ciência adquirida no domínio das forças brutas da natureza. O objetivo dessa cultura é “saber fazer” e “fazer bem feito”. A cultura formal ou puramente teórica, destina-se a aparelhar o homem para auferir os proveitos espirituais da vida. A verdadeira cultura, portanto, é aquela que resulta da fusão da cultura material com a formal, constituindo-se uma em complemento da outra. Com ela sua beleza como também pode tornar-se verdadeiramente útil.” (Oliveira, 1938, p. 137)

Além do ensino técnico era transmitido sistematicamente aos alunos os rudimentos de economia que Oliveira chamava de cultura do dinheiro. Por estes rudimentos os alunos aprendiam a separar o lucro obtido nas transações comerciais do capital propriamente dito, aprendiam a investir os lucros preservando o capital. Prática esta desconhecido na concepção de negócio da cultura lusitana, que no período em estudo, não tinha por hábito separar o lucro do capital aumentando o risco para ambos. No entanto a partir da necessidade que o protestante carecia de dizimar (5) seus ganhos para separar o lucro do capital a fim de poder dizimar o lucro o levou a desenvolver esta praxis que culminou com a introdução da moderna contabilidade nos negócios. A preocupação com a administração do capital e dos lucros era largamente empregado pela cultura protestante norte – americana, como bem demonstrou Weber (1982). Já Oliveira, deixa claro que esta tecnologia do capital era ensinada aos alunos da Escola de Engenharia. Diz ele:

“Os dois pontos extremos de todo comércio são as compras e as vendas, sendo a sua finalidade a aquisição do melhor artigo a menor preço, para poder pela sua venda, realizar o seu lucro. O programa de ação do comércio em geral, deve, portanto, abranger as quatro partes seguintes: organização, administração, compra e venda. Como a indústria adquire matérias primas para transformá-las em produtos manufaturados, o seu programa compreenderá: organização, administração, produção e venda.

Três são os atos essenciais da administração de uma empresa, que devem ser previamente determinados: rotatividade de capital empregado, rotatividade para obtenção do lucro e o capital de movimento. Uma vez estabelecido o giro do capital empregado, determina-se o lucro, fiscalizando as vendas e as despesas, afim de que a diferença entre elas garanta o lucro, previsto. O capital de movimento para o giro de negócio é distribuído de acordo com o dinheiro em caixa, créditos concedidos, controle dos stocks de fabricação, do almoxarifado e do depósito de produtos manufaturados, devendo todos estes fatores serem considerados normal e conjuntamente.” (Sic. Oliveira, 1938, p 138)

O Brasil e particularmente São Paulo carecia de empreendedores e de uma classe empresarial afinada com os ditames do capitalismo ocidental moderno. Não se pode obliterar a importância de outras escolas brasileiras para a formação da mentalidade deste empresariado em nosso País, como por exemplo, no próprio estado de São Paulo, a contribuição da Escola Politécnica foi preponderante, contudo, a significativa contribuição desta escola fica como sugestão para outros pesquisadores.

Nesta pesquisa afirma – se a importância da contribuição do Mackenzie College para a formação das representações sociais do empresariado paulista entre 1870 a 1914. Neste sentido, não se pode negar a participação do Mackenzie College neste processo. A contribuição do Mackenzie College para a formação de uma classe empresarial é evidente.

quer seja através da formação dos filhos de grandes investidores, que vieram eles mesmo a se tornar grandes capitalistas, quer seja através do preparo de uma classe de administradores para a gestão do capital de terceiros. Esta contribuição fica evidente nos documentos primários e secundários explicitados neste capítulo os quais apontam nesta direção.

Os professores da Escola Americana, quando da sua fundação em 1870, foram recrutados em sua totalidade entre os leigos das igrejas presbiterianas de São Paulo e entre os pastores daquelas igrejas. Já os professores do Mackenzie College são recrutados, quase que em sus totalidade, nas grandes universidades do exterior. Não é forçoso afirmar que tais professores importavam das nações industrializadas de então os ingredientes que fortalecesse o arcabouço teórico, a filosofia, a estrutura ideológica da do Mackenzie College e que a ideologia trazida por tais professores favorecia a formação de uma classe empresarial no Brasil, pois oferecia a ideologia, os instrumentos teóricos necessários, a construção de uma ética empresarial. (Propespecto da escola de Engenharia do Mackenzie College, 1931;)

10. Os Engenheiros do Mackenzie College

Existe um mito nos meios presbiterianos brasileiros que afirma que a Escola Americana atraiu crianças pobres de São Paulo, este mito não se confirma. Por tratar – se de uma escola particular, por mais razoável que fossem os preço das matrículas e das mensalidades, isto a tornava inacessível aos pobres, considerando-se os padrões sócio – econômicos da época, e a total ausência de uma classe média, posto que em São Paulo de

1870, as classes sociais eram mais segmentadas e estanques do que hoje, havendo apenas os muito ricos e os muito pobres. Quem era, então, o aluno desta escola?

_____________

5. A idéia protestante do dízimo baseia-se nos ensinamentos bíblicos e principalmente em Malaquias 3: 10.Neste texto o dízimo é ensinado como fonte de benções espirituais e materiais. Dizimar consiste em doar 10 % de tudo aquilo que se ganha. O protestante encara esta doação como uma devolução daquilo que pertence a Deus já que se considera um mordomo do Senhor.

A fim de responder a esta indagação foram analisados os dados de todos os engenheiros formados pelo Curso de Engenharia do Mackenzie College, no período compreendido entre 1900 e 1914, cobrindo um total de 14 turmas e 91 engenheiros ao todo.

A análise dos resultados foi realizada de acordo com o modelo teórico formulado por Bardin para pesquisa qualitativa, análise de conteúdo (1981) e aplicado por Gomes (1995) em sua dissertação de mestrado sobre A Psicologia nas Organizações Não – Governamentais. Os dados dos documentos foram submetidos a uma análise de conteúdo. As afirmações foram transcritas e submetidas à pré – análise, a fim de se identificar cada resposta e agrupá-las, de acordo com sua unidade de significado, numa grade de categorização, ou código, conforme os temas ou assuntos fornecidos pelos textos: boletins, prospectos, ficha de matrícula, dados profissionais, etc.

A seguir, todas as respostas foram analisadas de acordo com a grade de categorização, e agrupadas numa freqüência estatística simples, comum a cada grupo de respostas, a fim de serem colocados nos quadros de respostas ou tabelas apropriadas, para que, posteriormente, fossem demonstradas em tabelas capazes de possibilitar a análise qualitativa e quantitativa dos dados obtidos.

Os dados obtidos neste processo foram submetidos a uma análise estatística longitudinal simples onde se verificou a porcentagem relativa a cada uma das freqüências dos dados das respostas dos sujeitos, relativos a cada grupo de atividade no campo da engenharia e de outras atividades desenvolvidas por esses engenheiros formados.

Nacionalidades dos Engenheiros

País

Número

%

Brasil

83

91,20

Itália

04

4,39

Argentina

02

2,19

França

01

1,09

Portugal

01

1,09

Total

91

100

(Tabela n.º 1)

O total de alunos brasileiros é alto: 83, que corresponde a 91,20 %; todavia convém considerar que estes alunos brasileiros geralmente eram filhos de imigrantes que haviam chagado ao Brasil. No número de alunos brasileiros está embutida a origem estrangeira de muitos filhos de imigrantes; para o período em estudo, o número de alunos estrangeiros também é relevante: 8,8 % do total.

Engenheiros Por Estados

Estado

Número

%

São Paulo

61

73,49

Rio de Janeiro

08

9,38

Pará

04

4,81

Minas Gerais

03

3,61

Santa Catarina

03

3,61

Pernambuco

01

1,20

Paraná

01

1,20

Amazonas

01

1,20

Rio Grande do Sul

01

1,20

Total:

83

100

(Tabela n.º 2)

Pode – se afirmar que o Mackenzie College atraiu estudantes de diversos Estados do Brasil, no entanto São Paulo, por sediar a escola talvez, e o primeiros passos no processo de industrialização, concentrou o maior número de alunos matriculados.

Outro dado relevante sobre a natureza da clientela atraída pela Escola Americana e Mackenzie College foi observado por Boanerges Ribeiro (1981) e Mendes (1999) (6). Ribeiro registrou que já em 1876 o corpo de alunos da Escola Americana era constituído em sua maioria, por filhos de imigrantes e crianças que haviam imigrado para o Brasil acompanhando seus pais. Em 1875 foram matriculados 90 alunos, sendo 42 brasileiros, 34 alemães, 2 portugueses, 1 italiano, 10 de outras nacionalidades estrangeiras. Em 1876, brasileiros 46, alemães 39, ingleses 1, portugueses 1, italianos 1, outras nacionalidades 10 (Estes dados se baseiam nas nacionalidades dos pais dos alunos matriculados). ( Ribeiro, 1981, p. 252). Dentre os alunos matriculados entre l873 e l874, de origem brasileira, isto é, com sobrenomes portugueses, destacam aqueles oriundos de famílias abastadas da sociedade paulista tais como: Campos Sales, Cezário Motta, Prudente de Morais, Rangel Pestana, Queiroz Telles, Bernardino de Campos, Barão de Antonina, Arruda Botelho, Guedes Silva Prado, Souza Barros, Camargo Penteado, Barão de Serra Negra, Anhaia Melo, etc.

Quanto aos alunos matriculados no Curso de Engenharia do Mackenzie College, Mendes (1999) observou que esta clientela não fugia a esta regra era constituída, em sua

maioria absoluta, por descendentes de Imigrantes:

“Quanto aos alunos da Escola de Engenharia “Mackenzie College”, nas primeiras décadas, tem-se a dizer que considerável parte descendia de imigrantes italianos, alemães, portugueses, ingleses, americanos, franceses e sírios. Da primeira turma que se formou – constituída de apenas dois acadêmicos – ambos eram nascidos na Itália.” (Mendes, 1999, p. 10)

A afirmação acima pode ser comprovada pela abundância de sobrenomes italianos, ingleses e alemães, franceses e ainda judeus, estes atraídos pela liberdade religiosa que vigorava na escola desde a sua fundação. As origens sócio econômicas dos alunos do Mackenzie College, seguia o mesmo padrão, quanto ao nível sócio – econômico dos alunos da Escola Americana, salvo alguns bolsistas, filhos de pastores, filhos de funcionários e filhos de professores, a maioria era constituída de descendentes dos Barões do Café e da emergente burguesia comercial, esta constituída em sua maioria, de imigrantes e filhos de imigrantes.(Fausto, 1997).

São contados entre os alunos matriculados no Curso de Engenharia, no período compreendido entre 1900 a 1931, filhos de influentes fazendeiros e de políticos pois figuram sobrenomes da elite paulista tais como: Santos Saraiva, Villares, Bierrembach, Almeida Sampaio, Amaral, Aranha, Pereira Barreto, Rodrigues Alves (trata-se de Elon Rodrgiues Alves, irmão do presidente da república, Rodrigues Alves), Moraes Barros, Bernardes, Cintra, Penteado, Bresser, Jafet, dentre outros. (Engenheiros Formados Pela Escola de Engenharia Mackenzie College – Turmas 1900 – 1931, sem data)

Dos engenheiros formados no segmento de tempo em estudo, cinco continuaram seus estudo nos Estado Unidos da América, sendo que 4, que corresponde a 4,39 % da amostra, continuaram sua formação na própria graduação em engenharia e um, que significa 1,09 % da amostra considerada, realizou curso de pós graduação em nível de mestrado em engenharia.

A questão sociológica posta neste aspecto se refere aos fatores que serviram de atração simbólica para o tipo peculiar da clientela de alunos do Mackenzie College: imigrantes e filhos de imigrantes. A esta indagação podemos afirmar que estes alunos foram atraídos por diversos fatores nem sempre convergentes. Pode-se dizer que os filhos dos libertários republicanos, os dos maçons e mesmo os dos judeus e os dos protestantes foram atraídos pela liberdade religiosa e pelo espírito liberal que reinava naquela escola. Já os filhos de imigrantes ligados ao comércio nascente em São Paulo podem ter sido atraídos pela filosofia pragmática do Mackenzie College e mesmo pela falta de opção no mercado educacional, registra-se que ainda não haviam cursos de comércio em São Paulo. O segundo curso de comércio será criado em 1902 pela escola de Comércio Armando Álvares penteado e também não existiam cursos de engenharia. O curso de preparatórios de engenharia teve o seu projeto concebido bem antes da criação da Escola Politécnica, fato que só aconteceria em 1894. Há ainda outro fator que se pode considerar relevante, e mesmo como tendo certa primazia, sobre todos estes citados até aqui: A identificação do Mackenzie College com os ideais de prosperidade próprios da cultura norte – americana e profundamente desejada pelas elites paulistas e pela burguesia comercial emergente de origem imigrante.

Natureza das Atividades dos Engenheiros

Natureza

Número

%

Setor Público

33

36,26

Setor Privado

57

62,63

Sem Registro

01

1,09

Total:

91

100

(Tabela n.º 3)

O Mackenzie College colaborou intensamente para a formação do empresariado em São Paulo formando uma parte considerável da classe empresarial paulista. Classe empresarial, aqui considerada, tanto os detentores do capital, como aquela mão de obra especializada necessária ao gerenciamento e a estruturação econômica dos meios de produção.

Em São Paulo as afirmações de Weber (1994) e Laveleye (1951) sobre a preponderância do ensino tecnológico voltado para o comércio e a indústria nos países de cultura protestante , se confirmam em relação aos profissionais formados pelo Mackenzie College.

Quanto a influência desta escola na construção de um espírito capitalista em São Paulo, tudo levar a crer que o Mackenzie College, contribuiu mais pela importação da cultura norte – americana e européia, dos seus idéias de progresso, dos seus professores importados, pela a produção de um saber apropriado a boa administração do capital e dos meios de produção nos moldes capitalista. E contribui menos através do espírito protestante posto que o protestantismo de Horace Lane exercia pouquíssima influência sobre ele próprio e menos ainda sobre a filosofia do colégio que ele administrou por mais de trinta anos.

A inserção dos alunos do Mackenzie College originários do Curso de Engenharia no mundo econômico de São Paulo, no período estudado, foi total. Tanto o setor público quanto o setor privado absorviam todo o contingente de profissionais formados. Vejamos a contribuição destes no setor público. No setor público, a participação dos alunos, engenheiros, formados pelo Mackenzie College extrapolou para além do simples fornecimento de mão de obra especializada pois contribuiu, inclusive, para a formação de uma filosofia empresarial neste segmento.

Armando Salles de Oliveira, irmão de Francisco Salles de Oliveira, ex-governador do Estado de São Paulo (como interventor federal de 28 de agosto de 1933 a 10 de abril de 1934 e como goverrnador eleito entre 11 de abril de 1935 a 29 de dezembro de 1936), considerado o criador oficial da Universidade de São Paulo (USP), destacou – se também por ter criado em 1931 o IDORT, Instituto de Desenvolvimento da Organização Racional do Trabalho, posteriormente dirigida por seu irmão Francisco Salles de Oliveira (7) por mais de uma década, que chegou inclusive a cumular a diretoria da Escola de Engenharia do Mackenzie. Francisco Salles de Oliveira acumulou as funções de diretor do IDORT e da escola de Engenharia Mackenzie entre 26/1/34 a 6/8/38)

O IDORT, fundado em 1931, tinha como finalidade estudar, aplicar e difundir os métodos de organização cientifica e de cooperar para o aumento do bem estar social, pelo melhor aproveitamento do trabalho humano, tornando-se, não só no Estado de São Paulo, bem como em todo o país, o centro coordenador de todas as informações relativas a organização científica do trabalho na década de trinta.

Para melhor desempenho de sua atividade, o IDORT foi organizado em duas divisões, uma a que ficaram afetados os assuntos relativos a organização administrativa, quais sejam: administração, estatística, contabilidade, compras, vendas, produção, padronização, legislação e finanças; outra com encargo dos assuntos referentes a técnica científica do trabalho, abrangendo não só a parte técnico executiva, como a dos fatores psicológicos. Em outras palavras, a primeira, dedicando-se a tudo o que se refere a organização e direção das instituições, e a outra, especializando-se no que se refere a parte técnico – executiva da produção.

O IDORT trabalhou na reorganização do serviço público em São Paulo e em outros estados da Federação. Em São Paulo sua ação foi ampla, tendo reorganizado os seguintes setores da administração pública: Departamentos Administrativos; Departamentos Técnicos e as Secretarias da Justiça, a Corte de Apelação, a Procuradoria Geral do Estado e Departamento de Assistência a Menores; Segurança Pública ,o Departamento de Polícia Civil, Trânsito, Prisões do Estado, Técnico – Pericial, Identificação e Polícia Militar; Educação, Reitoria da Universidade, Departamentos de Instrução Pública, Educação Física, Educação Profissional, Bibliotecas e Museus; Saúde Pública, Departamento de Policiamento, Assistência e Pesquisas; Economia (Agricultura), Departamentos de Produção, do Trabalho e de Pesquisas Científicas; Viação e Obras Públicas ,Departamento de Viação, de Obras e de Utilidades; Fazenda ,Departamento de Receita e do Cadastro Imobiliário, Coletorias e as seguintes unidades autônomas – Recebedoria de Rendas da Capital, Santos e Campinas; Caixas Econômicas da Capital, Santos, Campinas e Ribeirão Preto; Conselhos Técnicos Secretarias de Estado- Secretaria, Gabinete, Conselho Superior, Diretoria Geral, Departamentos Técnicos, Conselhos Técnicos dos Departamentos e Departamento Administrativo, Secretaria de Economia, os Departamentos Centrais.

Este instituto tem a primazia de ter trabalhado para difundir o conceito de racionalidade científica do trabalho na administração pública, da administração planejada, baseada em pesquisa e acompanhamento, noção esta ainda desconhecida no meio empresarial brasileiro:

“Para Ter uma visão nítida e segura dos serviços públicos em seu conjunto, procedeu o I.D.O.R.T. a um minucioso inquérito que alcançou as mais elementares parcelas da administração, levantando, por meio de um questionário, a hierarquia administrativa, as relações de serviços, o andamento dos papéis, as contabilidades, a organização dos almoxarifados, a produção técnica, a remuneração dos funcionários, as formas de pagamento, os locais de trabalho e todas as demais informações.” (Oliveira, 1934,p. 187)

Este instituto, que recebeu a inegável influência do Mackenzie College, tornou-se respeitado em sua tarefa de levar a racionalidade metódica para outros Estados da Federação. Os governos dos Estados de Pernambuco, Paraná, e Goiás também solicitaram a cooperação técnica do IDORT para o estudo da reorganização administrativa daquelas unidades da federação. (Anuário da Escola de Engenharia Mackenzie, Para o Anno de 1934, p. p.209)

A atuação dos engenheiros formados pelo Curso de engenharia de do Mackenzie College no setor público brasileiro entre 1900 a 1914 foi significativa como demonstram os dados a seguir. Das sínteses dos currículos profissionais de cada um dos 53 engenheiros que se formaram pelo “Mackenzie College”, entre 1900 e 1910, verifica-se que um total de 77 %, iniciou suas atividades em órgãos governamentais e concessionárias de serviços públicos e apenas 33 % na permaneceram na iniciativa privada.

As atividades destes engenheiros no setor público foi pioneira nas áreas correspondentes a implantação de ferrovias, magistério ligado ao ensino de engenharia, implantação do sistema elétrico, saneamento, irrigação, telefonia, petróleo, automóveis, etc. Nestas atividades tais engenheiros trabalharam não apenas no canteiro de obras, mas inclusive na gestão do empreendimento e na direção de diversas empresas federais, estaduais e municipais.

Circulação dos Engenheiros Por Estados da Federação

Estado

N.º

%

São Paulo

67

52,75

Rio Grande do Sul

13

10,23

Rio de Janeiro

10

7,87

Minas Gerais

06

4,72

Mato Grosso

06

4,72

Pará

04

3,14

Paraná

04

3,14

Santa Catarina

04

3,14

Ceará

03

2,36

Bahia

03

2,36

Amazonas

01

0,78

Goiás

01

0,78

Espírito Santo

01

0,78

Paraíba

01

0,78

Pernambuco

01

0,78

Rio Grande do Norte

01

0,78 0,78

Sem Registro

01

0.78 0,78

Total:

127

100

(Tabela n.º 4)

Pela análise dos dados constantes nesta tabela verifica – se que a concentração de engenheiros formados pelo Curso de Engenharia do Mackenzie College nos estados brasileiros seguiu o curso proporcional do desenvolvimento industrial destes estados, por isso São Paulo, Rio grande do sul e Rio de Janeiro, são os estados que apresentaram maior índice de concentração de engenheiros no período em estudo, 1900 a 1914. As regiões norte, centro – oeste e nordeste são que apresentam menor índice de concentração de engenheiros no período em estudo. Seria interessante para pesquisas futuras verificar a situação deste quadro no momento atual, 1999.

Concentração de Engenheiros por Atividades no Setor Público e Privado

Tipo de Atividade Profissional

Número

%

Ferroviário

19

17,27

Comércio

13

11,81

Magistério

12

10,90

Elétrico

12

10,90

Político

08

7,27

Escritor

06

5,08

Fazendeiro

05

4,45

Cartográfico

04

3,63

Saneamento

04

3,63

Irrigação

04

3,63

Indústria

03

2,72

Mineralogia

03

2,72

Jornalista

02

1,80

Sindicalista

02

1,80

Militar

02

1,80

Portuário

02

1,80

Rodoviário

02

1,80

Químico

02

1,80

Petrolífero

02

1,80

Telefonia

01

0,90

Automóvel

01

0,90

Revolucionário

01

0,90

Sem registro

01

0,90

Total:

110

100

(Tabela n.º 5)

O Brasil estava engatinhando na revolução industrial no início do século XX e os engenheiros formados pelo Curso de Engenharia do Mackenzie foram absorvidos pela iniciativa privada de bom grado. Do total de 91 formados entre 1900 e 1914, 57 ou seja 62, 63 %, ficaram na iniciativa privada. Desse total, 41 engenheiros, o que corresponde a 45, 05 %, desenvolveu algum tipo de empreendimento empresarial próprio. Estes engenheiros foram pioneiros na criação das primeiros empreiteiras que se dedicavam a construção de portos, estradas, açudes etc. Além do mais foram eles que fundaram os primeiros serviços de gás encanado, de eletricidade de telefonia,. Atuaram no sistema financeiro, como executivos e mesmo como empreenderes na fundação de companhias de valores mobiliários. O restante destes, 13 engenheiros , ou 14, 28 % envolveu-se com atividades de natureza puramente comercial.

O setor de maior concentração dos engenheiros formados pela Escola de Engenharia do Mackenzie até 1914, foi sem dúvida o ferroviário. Eles trabalharam na construção e manutenção das seguintes ferrovias: Estrada de Ferro Vitória Diamantina; Estrada de Ferro do Rio Grande do Sul; Estrada de Ferro do Noroeste do Brasil; Southern S. Paulo Railway Co.; Estrada de Ferro São Paulo Minas; Estrada de Ferro Sorocabana; Estrada de Ferro Blumenau a Hansen; Estrada de Ferro Santa Catarina; Estrada de Ferro Bragantina; Estrada de Ferro Mogiana; Estrada de Ferro São Bento de Sapucaí; Estrada de Ferro Oeste de Minas; Estrada de Ferro Noroeste do Brasil; Estrada de Ferro Central do Brasil; Estrada de Ferro Goiás; Estrada de Ferro Juquiá; Estrada de Ferro Minas Gerais; Estrada de Ferro Rio Grande do Sul; Estrada de Ferro São Paulo, Goiás; Brasil Railway Ltda.

11. Conclusão

Este trabalho explicita que o incipiente processo de industrialização do Brasil que começou por São Paulo no início do Século XX foi marcado pela decisiva participação dos imigrantes europeus, em maior número e norte – americano, em menor quantidade. Os imigrantes desempenharam uma papel inovador e dinamizador repelindo as relações paternalistas que marcavas as relações entre o capital e o trabalho no Brasil colonial; transplantaram novas formas e novas técnicas de produção e gerenciamento do capital; desenvolveram uma atitude voltada para a poupança possibilitando a ascensão social das gerações subsequentes e investiram pesadamente na educação de seus descendentes. Este conjunto de ações inovadoras elevou – os a condição de classe comercial e posteriormente empresarial e industrial emergente, conforme demonstrado pela pesquisa de Pereira,(1996) e determinou uma demanda marcada pela busca de novos modelos pedagógicos e formas de filosofias educacionais voltadas para a formação de uma classe empresarial capazes de gerenciar os investimentos de capitais que se fizeram necessários.

Outras Escolas paulistas foram determinante na formação deste empresariado. Dentre estas focaliza-se a atuação da Escola Politécnica, mais tarde vinculada a Universidade de São Paulo e a Escola de Comércio Armando Álvares Penteado, no entanto esta pesquisa põe em alto relevo a contribuição do Mackenzie College para a formação da mentalidade deste empresariado por considerar que esta Escola, pelas suas origens protestante – presbiteriana e norte – americana, estava ideologicamente bem mais equipada que as demais para cumprir esta tarefa.

Os teólogos calvinistas brasileiros, de modo geral, procuram justificar e mesmo renegar a relação do protestantismo norte americano com o surgimento do capitalismo moderno apontado por Weber,(1994), e costumam argumentar afirmando que a teologia calvinista não demonstra nenhuma tendência capitalista, e não pressupõe por si só, uma ética econômica. Nisto podem ter razão. Todavia é bom lembrar que as afirmações de Weber não se fundamentam na teologia calvinista mas sim na apropriação que a cultura protestante norte americana e européia fizeram de algumas categorias do protestantismo, como o estilo de vida ascético, que leva o protestante a ser, ele mesmo o seu próprio convento, sua vida regada, seu culto a pureza, sua devoção metódica e racional ao trabalho, tudo isto, produz poupança e pode ter facilitado o surgimento do capital naqueles países. Esta visão de mundo, desenvolveu nos povos de cultura protestante uma certa propensão para o desenvolvimento do comércio e da industria, conforme bem prefigurou Laveleye (1951).Neste caso, as conclusões desta pesquisa demonstram que algumas das categorias protestantes presbiterianas, e especialmente da cultura norte – americana, apontadas acima, contribuíram significativamente para a formação do empresariado industrial de São Paulo de 1870 a 1914. .

As contribuições ideológicas das escolas presbiterianas foram respingadas por Ramalho (1976), que considerou duas variáveis: o espírito protestante trazido pelos missionários presbiterianos e as contribuições pedagógicas das escolas presbiterianas. Ramalho considerou o espírito protestante existente nas escolas presbiterianas a partir da relação que havia entre o liberalismo e o pietismo protestante, para os seguintes aspectos:

  1. Individualismo – Uma das doutrinas básicas do protestantismo, que toma ênfase especial no pietismo, é a que se refere a responsabilidade individual.

  1. Liberdade – Esta categoria está presente na origem do movimento histórico que redunda no protestantismo e é muito enfatizada no pietismo. Nas suas bases estão as afirmações do direito de livre interpretação da Bíblia e o “livre acesso a Deus”, excluindo-se os dogmas e os santos intermediários.

  2. Democracia – Também sobre a forma de governo havia certa coincidência entre o pietismo e o liberalismo.

  3. Trabalho e êxito – Para os pietistas, o trabalho constitui antes de mais nada a própria finalidade da vida (vocação). O êxito no trabalho representa que Deus está abençoando suas atividades.

  4. Progresso – A idéia de progresso ininterrupto, que é uma constante do liberalismo, é proveniente de duas fontes: uma do próprio capitalismo ocidental e a outra da idéia de evolução.

Na realidade estas categorias traduzem uma identificação do pietismo protestante – presbiteriano com os valores do American way of life, o que é observado através da pregação dos missionários e do espírito preponderante nas escolas presbiterianas fundadas no Brasil pelos missionários, como registrou Mendonça, (1995).

No campo pedagógico Ramalho (1976) relaciona as principais contribuições das escolas presbiterianas na perspectiva do período histórico em que aconteceram (1870-1912). Curso primário com pedagogia moderna, usando-se o método intuitivo:

  1. Introdução de atitudes liberais, com respeito à raça, religião e idéias políticas.

  2. Adoção da co – educação desde o curso primário (1870).

  3. Instalação por iniciativa não oficial de estabelecimento de Ensino Superior no país – Escola de Engenharia (1896).

  4. Primeira Escola de Comércio (1890), visando preparar pessoal para atender à necessidade de contabilidade moderna nas empresas do país.

  5. Curso Geral de Preparatório (1896), separado por áreas de interesse dos alunos, o que viria muito mais tarde a ser adotado no Brasil.

  6. A abertura de cursos de química industrial e de eletrotécnica, no ensino técnico.

  7. A organização e adoção de esportes em forma obrigatória e sistemática introduzindo novas modalidades de práticas no Brasil.

  8. Incentivo ao Departamento Cultural, desenvolvendo interesses, atividades extracurriculares, com grupos orfeônicos, grupos orquestral, teatro, cinema etc.

  9. Organização moderna da biblioteca, com um prédio de quatro andares (1926), cabendo-lhe a primazia do uso do sistema Dewey de catalogação no Brasil.

.

A análise dos textos pesquisados nestes capítulos permitem, porém, outras assertivas sobre a educação reformada, presbiteriana, em São Paulo, no século XIX. Os missionários presbiterianos que chegaram ao Brasil em meados daquele século conheciam um organizado e complexo sistema de ensino que cobria todas as faixas etárias e segmentos pedagógicos, da escola primária ao curso superior. Além do mais, a cosmovisão protestante calvinista impunha um modo particular de ver a realidade educacional. Esta era considerada como uma necessidade premente para a própria sobrevivência desta cosmovisão. A fé reformada, sua liturgia, seus ritos e cultos estavam todos calcados na cultura de tradição escrita, na leitura e interpretação da Bíblia Sagrada e esta não prescindia da educação dos fiéis. A fé impulsionava o sistema pedagógico, o qual fornecia os pilares para a sustentação daquela, numa perfeita simbiose legitimadora como prefigurou Berger no Doassel sagrado (1985). O sistema educacional presbiteriano que tomou forma na Escola Americana e no Mackenzie College de São Paulo, além do mais, era portador das seguintes características diferenciadoras:

a) A racionalidade do espírito protestante, decantada por Weber em sua obra A ética protestante oe o espírito do capitalismo( 1994) e a doutrina do livre exame atenuava as tensões suscitadas pelos embates científicos, facilitando a aquisição de novas tecnologias e novos saberes. (Teixeira, 1971).

  1. O pragmatismo protestante, derivado da sua racionalidade metódica, desenvolveu uma educação voltada para aplicações práticas como a educação para o comércio e indústria comprovando as tese de Laveleye,(1951) e concretizando as esperanças de Tavares Bastos, (1938).

  2. A educação de mulheres e a sua utilização como professoras nas escolas presbiterianas ampliava o sistema educacional, incluindo neste o próprio lar presbiteriano, como fator de alfabetização para a leitura da Bíblia. (Rodrigues, 1962).

  3. A ausência de castigos físicos, com a utilização de reforços positivos, funcionava como um facilitador da aprendizagem transformando a numa a atividade lúdica.

  4. A educação presbiteriana, com a utilização do método silencioso, indutivo, colocava a primazia da inteligência sobre a memória, fato que a escola brasileira, pela média, desconhece até hoje.

12. BIBLIOGRAFIA

  1. Documentos institucionais: atas, estatutos, etc

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ESTATUTO DO COLÉGIO PROTESTANTE (THE PROTESTANT

COLLEGE) DE SÃO PAULO, BRAZIL. Adotado em 15 de julho de

1890,revistos em 1993. Tipografia King ,São Paulo,1898. Associação

Presbiteriana Mackenzie.

  1. Cartas e correspondências:

CARTA do Rev. George Chamberlain escrita em 10 de Julho de 1866.

Campinas:Arquivo Presbiteriano.

CARTA de Chamberlaim convidando o Dr. Horace M. Lane para dirigir

a Escola Americana, datada de 4 de Novembro de 1884 .

  1. Boletins e periódicos:

ANUÁRIO ESCOLA DE ENGENHARIA, Para o anno de 1934, 1º Anno.

São Paulo : Cardoso & Botelho Reis,1934.

BRAZILLIAN BULETIN, Organ of Mackenzie,, June 1898 – Dec. 1898.

São Paulo: Relicário do Mackenzie.

CATALOGO DA ESCHOLA AMERICANA DE 1885 E 1886. São Paulo:

Relicário do Instituto Mackenzie

CATALOGO DO COLLEGIO INTERNACIONAL DE CAMPINAS

Publicado no anno collegial de 1877. Campinas: Typ. Gazeta de

Campinas, 1878.

  1. Jornais:

A Provincia de S. Paulo. São Paulo, 05 de agosto de 1880.

A Provincia de S. Paulo. São Paulo, 05 de julho de 1885.

A Provincia de S. Paulo. São Paulo, 21 de novembro de 1889.

A Provincia de S. Paulo . São Paulo, 13 de fevereiro de 1894.

  1. Relatórios e documentos diversos:

RELATÓRIO: Os meios próprios para plantar o reino de Jesus Cristo

no Brasil. Documento lido por Ashbel Green Simonton perante

Presbitério do Rio de Janeiro no dia 16 de julho de 1867.

Campinas: Arquivo Presbiteriano.

  1. Obras Gerais:

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