AUTOESTIMA E AUTOCONCEITO

Antonio Maspoli

Introdução

A autoestima é considerada um dos pilares do bem-estar e da saúde física, mental e espiritual. O respeito por si mesmo decorre da autoestima. Algumas pesquisas têm correlacionado autoestima com depressão, com ajustamento emocional, com coping e resiliência. “De forma geral, altos escores de autoestima associam-se a humor positivo e a percepção de eficácia em relação a domínios importantes para a pessoa. Por isso, talvez, alta autoestima geralmente indique saúde mental, habilidades sociais e bem-estar. ” (HUTZ; ZANON, 2011, p. 41). “Enquanto que baixa autoestima está associada com humor, negativo, percepção de incapacidade, delinquência, depressão e ansiedade social. ” (HUTZ; ZANON 2011;).             

A importância do autoconceito decorre do fato de que a percepção de si próprio perante o outro é que pode determinar as formas do ser no mundo. Além de ajudar a compreender como o sujeito pode existir e atuar, o autoconceito é capaz de, juntamente com a observação clínica e outros instrumentos, predizer como o sujeito poderá desempenhar determinadas tarefas e mesmo comportar-se em face de eventos específicos. O autoconceito pode estar igualmente relacionado ao sentimento de ser aceito, de ser amado, de ser autônomo e de ser competente, diante de si mesmo e do grupo. O baixo autoconceito pode estar ligado à desvalorização pessoal que pode levar ao estresse, à depressão, etc. (VAZ SERRA, 1986).

autoestima

O amor próprio é a fonte da autoestima. “A autoestima é definida como o sentimento, o apreço, e a consideração que uma pessoa sente por si própria. ” (MAURER; BENEDETTI, 2012, p. 6). A autoestima consiste na autoavaliação e implica sentimento de valor, englobando um componente predominantemente afetivo, expresso numa atitude de aprovação/desaprovação em relação a si mesmo. O complexo cultural de inferioridade alimenta a baixa autoestima, nutre o desprezo por si mesmo, combate com todas as forças possíveis e impossíveis o amor próprio. Aquele que se ama, aquele que ama a si mesmo é visto com desconfiança. “A autoestima representa um aspecto avaliativo do autoconceito e consiste num conjunto de pensamentos e sentimentos referentes a si mesmo. ” (HUTZ; ZANON, 2011, p. 41).

Autoestima, segundo Rosenberg, é a avaliação que a pessoa faz de si própria, que implica um sentimento de valor expresso em uma atitude de aprovação/desaprovação em relação a si mesma. Essa avaliação tende a ser estável no tempo e em diferentes contextos, apresentando-se segundo níveis que podem variar de baixo a elevado. A baixa autoestima é caracterizada por um sentimento de incompetência, de inadequação à vida e de elevada desaprovação de si mesmo, enquanto a elevada é expressa por um forte sentimento de confiança, competência e elevada autoaprovação! (GORENSTEIN; WANG; HUNGEBUHLER, 2016, p. 461).

A Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR) tem sido usada mundialmente para mensurar a autoestima de sujeitos em mais de 50 países do mundo. Essa escala foi conceituada pelo autor como um instrumento unidimensional capaz de classificar o nível de autoestima em baixo, médio e alto. A baixa autoestima se expressa pelo sentimento de incompetência, inadequação e incapacidade de enfrentar os desafios. A média é caracterizada pela oscilação do indivíduo entre o sentimento de aprovação e rejeição de si. E a alta autoestima consiste no autojulgamento de valor, confiança e competência. A escala original foi desenvolvida para adolescentes e possui 10 sentenças fechadas, sendo cinco referentes à autoimagem, ou autovalor positivo, e cinco referentes à autoimagem negativa, ou autodepreciação (ROSENBERG, 1965).

As sentenças da EAR são dispostas no formato Likert de quatro pontos, variando entre concordo totalmente e discordo totalmente. A EAR foi traduzida para 28 idiomas e sua difusão em até 53 países (GORENSTEIN; WANG; HUNGERUHLER, 2016, p. 461-464).

 A Escala de Autoestima de Rosenberg – EAR – foi desenvolvida por Rosenberg, em 1965. É um instrumento utilizado para avaliação da autoestima global.  A validação da Escala de Autoestima de Rosenberg, no Brasil, com 492 homens e mulheres, com idade entre 18 a 50 anos, produziu como resultado a média simples de 32,9.

A RSES é constituída por dez itens, com conteúdos referentes aos sentimentos de respeito e aceitação de si mesmo. Metade dos itens é enunciada positivamente e a outra negativamente. A soma das respostas aos 10 itens fornece o escore da escala cuja pontuação total oscila entre 10 e 40 e a obtenção de uma pontuação alta reflete uma autoestima elevada. (MAURER; BENEDETTI, 2012, p. 8).

A autoestima mantém-se estável, ao longo de determinados períodos de tempo, em contextos naturais da vida e pode variar com a idade. Diferenças de sexos quanto à autoestima têm sido pesquisadas nos últimos tempos, sem, contudo, apresentar uma diferença significativa em seus resultados.

Instrumentos como A Escala de Autoestima de Rosenberg não devem ser utilizados isoladamente na avaliação psicológica. São instrumentos importantes quando combinados com outros testes e, especialmente, com a insubstituível observação clínica.

AUTOCONCEITO

A Escala de Autoconceito de Adriano Vaz Serra é uma escala do tipo Likert, constituída de 20 questões. Essa escala focaliza apenas aspectos emocionais e sociais de autoconceito. “A presente escala de autoavaliação, constituída por 20 questões, vem nos revelar a importância de aceitação/rejeição social e de autoeficácia na definição do conceito que o indivíduo faz de si mesmo. ” (VAZ SERRA, 1998, p. 52). Dentre os constituintes intrínsecos do autoconceito, destaca-se a autoestima.

 A escala foi criada com 20 questões, cada uma com cinco categorias diferentes de respostas, com mais um ponto acima do que a anterior. Nas questões negativas, as pontuações são revertidas. Assim, cada questão pode variar, de um mínimo de um ponto, para um máximo de cinco pontos, de acordo com as alternativas de respostas: “não concordo”; “concordo pouco”; “concordo moderadamente”; “concordo muito”; “concordo muitíssimo”. A Escala foi concebida de forma que uma pontuação mais alta do sujeito exprime um maior autoconceito deste (VAZ SERRA, 1998, p. 69-70).

O autoconceito corresponde à percepção e mesmo à avaliação que o sujeito faz de si mesmo: “O autoconceito pode ser definido como a percepção que o indivíduo tem de si próprio e o conceito que, devido a isso, forma de si. ” (VAZ SERRA, 1988, p. 109). Adriano Vaz Serra (1988) afirma que existem influências que ajudam a construir o autoconceito: a percepção do outro sobre o sujeito – o sujeito se percebe a partir do olhar do outro, como num espelho. O autoconceito nasce, portanto, do complexo processo de dar e receber feedback.

O autoconceito surge também do conhecimento que o sujeito tem do seu próprio desempenho em situações concretas. Nesse caso, as experiências do sujeito podem levá-lo a perceber-se como eficiente ou ineficiente, competente ou incompetente, adequado ou inadequado; uma terceira influência se refere à conduta do sujeito, em confronto com seus pares sociais, com os quais pode estar identificado; e, finalmente, a capacidade de avaliar um determinado comportamento em função das crenças e valores professados e veiculados pelo seu grupo de referência (VAZ SERRA, 1988, p. 101).

Adriano Vaz Serra (1988) arrola os constituintes do autoconceito. São eles: as autoimagens, a autoestima e as autoidentidades. As autoimagens são derivadas dos papéis que o sujeito exerce na sociedade. Os papéis sociais não pertencem ao sujeito, pertencem antes aos grupos, organizações e intuições. Mesmo um homem comum, do senso comum, pode se perceber como pai, como filho, como irmão, como profissional, como marido, como amigo, como pescador e como cidadão. As formas como essas autoimagens organizam-se e hierarquizam-se variam de sujeito para sujeito. Se um homem pode supervalorizar a imagem profissional, a mulher pode sobrevalorizar a imagem corporal, por exemplo (VAZ SERRA, 1988, p. 102).

A autoestima, por sua vez, tem que ver com noção de valor pessoal: “Podemos sintetizar que a atuoestima é o produto dos julgamentos que a pessoa faz acerca de si própria, de onde decorrem atribuições de bom ou de mal feitas a aspectos considerados relevantes da sua identidade. ” (VAZ SERRA, 1988, p. 102). Finalmente, o terceiro fator relevante do autoconceito diz respeito às identidades do sujeito.

Antonio da Costa Ciampa (1985) preconiza que a noção de identidade nasce da contradição imposta pelas relações do sujeito com o grupo social. Essa contradição gera os papéis sociais e os impõe ao indivíduo, que deve representá-los. Contudo essa contradição e, às vezes, a superposição de papéis sociais não são suficientes para fragmentar a identidade do sujeito. O “eu”, representado em um determinado papel, também o transcende. A sua identidade pertence à ordem das representações sociais e apresenta-se como totalidade contraditória:

Podemos imaginar as mais diversas combinações para configurar uma identidade como uma totalidade. Uma totalidade contraditória, múltipla e mutável, no entanto, una. Por mais contraditório, por mais mutável que seja, sei que sou eu que sou assim, ou seja, sou uma unidade de contraditórios, sou uno na multiplicidade e na mudança. (CIAMPA, 1985, p. 61).

Ciampa (1985) afirma que a identidade, do ponto de vista psicológico, nasce a partir da interação do sujeito com a comunidade; esta é considerada, no presente estudo, como o espaço privilegiado de interação do indivíduo com o outro, num determinado espaço geográfico por um longo período de tempo. Outra característica da comunidade é a existência de crenças e valores e objetivos comuns. Nesse sentido, a comunidade pode ser uma família, uma escola, uma igreja, uma instituição social, uma empresa, uma corporação de ofício, um sindicato, um quilombo, etc. A identidade do sujeito, nesse âmbito, vincula sua existência social ao contexto de uma comunidade:

Para compreendermos melhor a ideia de ser a identidade constituída pelos grupos de que fizemos parte, faz-se necessário refletirmos como um grupo existe objetivamente: através das relações que estabelecem seus membros entre si e com o meio onde vivem, isto é, pela sua prática, pelo seu agir (num sentido amplo, podemos dizer pelo seu trabalho); agir, trabalhar, fazer, pensar, sentir, etc., já não mais substantivo, mas verbo. (CIAMPA, 1985, p. 64).

Instrumentos como o Inventário Clínico de Autoconceito de Vaz Serra não devem ser utilizados isoladamente, como preditores de comportamentos ou mesmo para se fechar um diagnóstico, todavia são importantes nessa tarefa, quando acompanhados da observação clínica e/ou de outros instrumentos de avaliação psicológica.

Considerações Finais

As categorias de autoconceito e autoestima, por usarem e abusarem das escalas psicológicas e, por suposto, basearem-se na psicometria, por sua vez, gozam de certo prestígio na academia. No entanto o autoconceito e autoestima não devem ser considerados isoados do contexto da vida dos sujeitos, dos grupos das organizações e instituições. E nem devem ser utilizados como método único na análise destas categorias.   (GORENSTEIN; PANG-WANG; HUNGERBUHLER, 2016).

Bibliografia

CIAMPA, Antonio da Costa. Identidade. LANE, T. S. Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985.

GORENSTEIN, C.; PANG WANG, Y.; HUNGERBUHLER, I. Instrumentos de avaliação em saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2016.

HUTZ, Claudio Simon. ZANON, Cristian. Revisão da adaptação, validação e normatização da escala de autoestima de Rosenberg. Aval. psicol. vol.10 no.1 Porto Alegre abr. 2011.

MEURER, S.T.; LUFT, C.B.; BENEDETTI, T.R.; MAZO, G.Z. Validade de construto e consistência interna da escala de autoestima de Rosenberg para uma população de idosos brasileiros praticantes de atividades físicas. Motricidade, v. 8, n. 4, p. 5-15, Desafio Singular – Unipessoal, Vila Real, Portugal, 2012.

VAZ SERRA, A. A importância do auto-conceito. Psiquiatria Clínica. Coimbra, v. 7, n. 2, p. 57-66, 1986a.

______. O Inventário Clínico do Auto-Conceito. Psiquiatria Clínica. Coimbra. v. 7, n. 2, p. 67-87, 1986b.

______. Atribuição e autoconceito. Psychologica, Coimbra. Volume 1, 1988, p. 127-141.

______; POCINHO, F. Auto-conceito, coping e ideias de suicídio. Psiquiatria Clínica. Coimbra, v. 22, n.1, p. 9-21, 2001.

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