Relações Humanas  na Década de 197

INTRODUÇÃO

Quer seja para os naturalistas, ou para os anti-naturalistas, o fim do homem como indivíduo é viver em sociedade aqui neste mundo. Na sociedade familiar, na sociedade religiosa, na sociedade política; em qualquer ramo da sociedade, o homem nunca é encontrado sozinho. Ele sempre precisa se comunicar com o seu semelhante. Sempre necessita conhecer o seu semelhante, afim de que melhor se relacione com ele. Esta carência de relacionamento que já nasce com o homem, o levou a sistematizar o mundo que o cerca, e dessa sistematização, como fruto direto e recente da Psicologia, surge a Psicologia Social Aplicada, ou ciência das Relações Humanas.

É das ciências das Relações Humanas que trataremos. Em especial das Relações Humanas na Família.

Como um estudo de Relações Humanas carece de base, procuramos no primeiro capítulo deste trabalho, dar um aspecto geral do que é Relações Humanas, dentro do sentido lato da palavra. Já nos capítulos seguintes: II, III, IV e V, procuramos lançar alguma luz, especialmente nas relações humanas da família.

No aspecto geral de Relações Humanas, procuramos mostrar os seus precedentes históricos, procurando para isto, algumas colaborações de Comte, Dewey, Pestalozzi, Eucken e muitos outros que muito contribuíram para uma melhor compreensão do homem.

Procuramos também neste capítulo, como introdutório dar um aspecto geral, de como é montado um programa de Relações Humanas, apontando para isto os elementos básicos e indispensáveis para o estudo e compreensão de Relações Humanas.

Nos capítulos que trata propriamente das Relações Humanas na família tratamos também de um aspecto geral de Relações Humanas no contexto familiar, e reservamos mais dois capítulos para tratarmos de campos específicos das Relações Humanas na Família, como a sua prática e a sua importância para a vida social do homem.

O último capítulo reservamos para fazer um pequeno estudo sobre a família brasileira, sua estrutura e vida social. Tendo em vista que um estudo deste gênero não esgota o assunto, procuramos abordar todo o assunto, de forma que pudéssemos levar o leitor a uma tomada de posição, face a exiguidade das pesquisas realizadas neste campo.

Louvamos ao Senhor nosso Deus, pela oportunidade que Ele nos concedeu de realizar tão importante estudo.

As ciências dedicadas ao estudo dos fenômenos sociais surgiram por imposição da própria vida social. Assim como a Pediatria é uma decorrência da nova atitude adotada pelos homens em face da criança, assim como a Física nuclear vem atender a uma necessidade surgida em virtude de novos descobrimentos no campo do átomo, a ciência das Relações Humanas parece estar nascendo nestes últimos anos e, certamente, nasce porque se faz necessária, porque os estudiosos deparam com problemas inteiramente Sui Generis, problemas que não são tratados de maneira desejada por nenhuma das ciências que dele se tem acercado.

Nenhuma ciência ainda se dedicou a nos dizer como agir. Se a Psicologia ajudada pela ciência Médica, informa que um homem neurastênico tem tais e tais características, se a Psicologia Social nos diz que ele deverá comportar-se de tal ou qual maneira, se a Sociologia nos esclarece que existe tanto por cento de homens neurastênicos, se a Moral nos diz como ele deve ser respeitado, se o Direito nos diz como alijar do nosso convívio o homem neurastênico, nenhuma destas ciências nos ensina o que fazer, que atitude tomar, no caso de nos depararmos em nossa vida com um homem neurastênico.

CONCEITO DE RELAÇÕES HUMANAS

O termo “Relações Humanas” está sendo muito utilizado em nossos dias. Embora a sua utilização muitas vezes esteja sendo efetuado de maneira errônea. Relações Humanas, nada mais é, do que sinônimo de Psicologia Social Aplicada. Assim, Relações Humanas consiste no estudo e na aplicação de conhecimentos nas relações entre os indivíduos nos diversos níveis destas relações: do grupo com outro grupo; do grupo com o indivíduo; do indivíduo com o grupo, do indivíduo para com outro indivíduo e etc.

OBJETO MATERIAL DAS RELAÇÕES HUMANAS

Para definirmos o objeto material das Relações Humanas, antes precisamos determinar o que o homem entende pelo fim da vida humana.

Para os Naturalistas, (Positivistas na França, Evolucionistas na Inglaterra e Materialistas na Alemanha), não existe nenhuma causa e nenhum fim para o homem que esteja fora da natureza.

Para os Socialistas, Comte como percussor; Dewey, Nartrop, Bergmann, Kerscheinsteineir, Durkheim (radicais); William, Paulson, Pestalozzi e Kidd (moderados), o fim da vida humana, é tornar o homem um ser social, prepará-lo para bem cumprir suas missões sociais. Para os anti-naturalistas (Boutroux, Eucken), o fim da vida é tornar o homem cada vez mais humano, a imagem e semelhança de Deus.

Em todas estas afirmações filosóficas, encontramos citações que tem um ponto de contato. O homem é um ser social, que mantem relações sociais. Para isto, para melhor preparar o homem afim de que ele melhor desempenhe a sua função social, como ser social que é, o estudo das “Relações Humanas”.

Embora chamamos “Relações Humanas” de ciência social, o fazemos usando a palavra ciência apenas em sentido estrito, isto porque as relações humanas ainda não das exigências fundamentais para ser considerada uma ciência: ainda não tem leis próprias, métodos e um campo especifico de trabalho.

COMO FAZER UM PROGRAMA DE RELAÇÕES HUMANAS

De início, o indivíduo precisa conhecer as reações das multidões, precisa saber o que é controle social, analisar como se formam os preconceitos, para então, formular opiniões relativas às Relações Humanas em si.

É justamente a falta de conceituação exata de termos usualmente empregados, é a falta de conhecimentos sobre hereditariedade, sobre a família, sobre educação, que levam o homem a conclusões simplistas e errôneas. É preciso que saibamos exatamente o que é o homem, como se forma a sua personalidade, qual a influência do meio sobre a sua evolução psíquica e moral.

Determinado estes estudos fundamentais, buscaremos definições de formas pluralistas de sociabilidade, para podermos ajustar um programa de Relações Humanas.

TIPOS DE SOCIABILIDADE

Uma vez definida a personalidade humana, temos de mostrar como ela participa da comunhão social. Como se põe a funcionar esta personalidade, como vai se firmando, como se fazem as trocas entre ela e a de seus semelhantes. Gurvitch, em seu livro “La Vocation Actuelle de La Sociologie”, nos dá um sistema pluralista de formas de sociabilidade humana, que passaremos a discorrer: sociabilidade espontânea e sociabilidade organizada.

  1. A Sociabilidade Espontânea pode ser:

  1. Sociabilidade por interpretação ou fusão parcial de “nós” – é uma compenetração das consciências, fundada sobre os estados e atos coletivos de caráter imediato;

  2. Sociabilidade por oposição parcial entre o “Eu”, “Tu” e “Ele”, que se manifesta nas relações com os outros, concerne às ligações de interdependência.

  1. A Sociabilidade Organizada pode ser:

Esta é apenas uma superestrutura de “Nós”; pode ser regida pelo princípio de denominação Estado Autoritário, usinas sobre o regime capitalista, ou, pelo de colaboração: Estados democráticos, sindicatos.

Estudando todas as formas de sociabilidade, estudando o que Gurvitch chama de sociabilidade espontânea e o que chama de sociabilidade organizada, esta última sendo um conjunto de regras e de normas já consagradas pelo costume, fixados em leis morais ou jurídicas, atingiríamos um bom programa de Relações Humanas, é aquele que procura levar o homem a uma educação para si e para a sociedade em que vive.

O HOMEM, HERANÇA E MEIO

Um dos problemas mais interessantes no estudo das Relações Humanas é a determinação de quanto há, em cada um de nós, de herdados de nossos pais e de adquirido do meio em que vivemos.

Quando Watson declarou solenemente, que não havia instintos quando atribuiu aos pais toda a culpa na formação do caráter e na determinação do futuro afetivo dos filhos, trouxe a par com exagerada afirmação, uma nova maneira de focalizarmos os problemas da herança.

Se, dantes, se poderia dizer ante o menino mal criado – “Este saiu a minha sogra” inculpando sempre a outra família, depois da afirmação de Watson, a culpa do menino ser mal criado, passou a ser nossa. Esta tomada, ou acusação da responsabilidade para os pais, modificaram completamente o quadro da educação e das relações humanas do século XX.

Para Conklin, “os caracteres principais de todo ser vivo se chama inalteravelmente fixados pela herança. O abrolho não dá uvas, nem o cardo figos”. Que haja transmissão dos caracteres físicos não há dúvida. A discussão é relativa à herança de caracteres psíquicos. Ribot e Galton são pioneiros neste gênero de estudo. Acharam que as aptidões superiores se sucedem nas famílias, e o provaram com análise de famílias proeminentes.

Houve uma família “Porson” que era tão superdotada de memória que a “memória Porson”, ficou famosa. Galton estabeleceu que de 42 famosos pintores italianos, espanhóis e flamencos, 21 tiveram parentes ilustres. A família Edwards, estudada por Winship em 1900, apresenta um quadro notável na realização do domínio das artes e das ciências. Foram identificados 1394 de seus membros a partir de Jonathan Edwards, nascido em 1703, contaram-se 13 decanos de Universidades, 65 Professores Universitários, 60 Médicos, 100 Sacerdotes, 100 Advogados, 30 Juízes, 75 Oficiais do Exército e da Marinha, 60 Proeminentes Escritores, 3 Senadores e vários membros do congresso, constituintes e prefeitos.

Outra grande análise de transmissão de caracteres foi à realizada por R.L. Dugdale em 1877, com a família Jukes. Trata-se da história de 42 famílias diversas que tiveram como laço, como traço inicial um homem chamado Max Jukes, nascido em 1720, indivíduo folgazão e indigno, que se casou com uma mulher de sua classe e mesmo sistema de vida. Em 1877 o número de seus descendentes era aproximadamente 1.200 entre os quais figuravam 300 mendigos, 7 assassinos, 60 ladrões, 140 convictos por crimes, 400 deles eram fisicamente degenerados e 300 morreram na infância. Só 20 dos 12 aprenderam um oficio, e assim mesmo na prisão. O estudioso desta família escreveu que sua contribuição à sociedade foi “uma interminável cadeia de crimes, de mendicidade, de enfermidades, vícios e imoralidade”.

Assim cada um de nós ao nascer, traz o que chamamos de equipamento hereditário; cor, constituição física que fará de nós um homem baixo ou alto, sexo, tipo de cabelo, de mãos etc., que nos farão diferentes uns dos outros.

Para encerrarmos a controvérsia sobre as influências do meio e da herança na formação da pessoa, vamos usar uma citação de Woodworth: “O desenvolvimento da planta é uma clara resposta da herança presente nas sementes e dos estímulos ambientais do solo isto é, da umidade e da luz solar. No animal do mesmo modo, o individuo depende da herança e do ambiente”. (Enciclopédia de Educação Infantil).

INTEGRAÇÃO NO MEIO SOCIAL

À proporção que nos desenvolvemos vamos ganhando personalidade. Individualidade somente ao nascer, totalmente inconsciente, semi-inconsciente nos primeiros tempos de vida, vai deixando este tipo, e nos tornando conscientes, no decorrer do tempo. E a individualidade se torna personalidade quanto mais consciente se torna de si mesma.

Atualmente foi superado o conceito de Bergson segundo o qual há um “eu” superficial que emerge do “eu” profundo. Apesar de ser estudada em seu conjunto, a personalidade, para Ramon Beltran, tem os seguintes aspectos:

  1. Um Eu Físico – o que comumente se chama de constituição;

  2. Um Eu Psicológico – conjunto de nossas atividades espirituais que definimos comumente como caráter;

  3. Um Eu Moral – formado pelos nossos sentimentos, crenças religiosas e morais;

  4. Um Eu Social – constituído por nossa experiência social e pela maneira pela qual a sociedade se corresponde conosco.

Em nosso estudo de Relações Humanas, nos interessa sobremaneira o “Eu Social” do homem.

A convivência humana, isto é, a forma pela qual nos recebem, nos solicitam desde a infância, os carinhos e rechaços recebidos, vão dar uma configuração especial a cada personalidade que se entranha em seu seio.

Não existe uma pessoa isolada. Há solicitações do meio ambiente as quais devemos atender e não há pergunta nossa, que não nos cause agrado ficar sem resposta.

A comunhão humana é um conjunto de solicitações, uma organização de estímulos e exigências que age como formadora da personalidade dos membros que a integram. É em última instância, uma mútua formação de homens. Dai porque Fichte dizia que os homens de hierarquia superior são aqueles que souberam assimilar mais profundamente às solicitações do meio, da história, as tradições, as exigências sociais imediatas.

Para Vierkandt, “a personalidade de um homem não é nunca sua própria obra exclusiva, mas o resultado de um modo pessoal de ser, segundo o qual o indivíduo elabora e se apropria da totalidade do espírito dominante no grupo, ou seja, da cultura imperante. O conteúdo de toda personalidade especialmente reflete, ainda dentro de uma maneira especial de elaboração e enriquecimento, e de conteúdo da cultura de sua tribo ou povo”.

Há, então em cada cultura, uma espécie de “clima espiritual” que domina todos os homens de uma época. Se falarmos em cultura “lato sensu”, podemos falar de um homem do século XX que, segundo alguns autores, é o homem inseguro, dominado pelos nervos tensos. Se restringidos o conceito de cultura a um circulo definido, temos a mentalidade brasileira, o homem nordestino, o sertanejo, mestiço, palavras que bem exprimem um fundo de convicções comuns a determinado grupo. A pessoa é então configurada dentro dos esquemas de seu grupo, do seu tempo. Entretanto o homem não é um recebedor passivo. Também enriquece, transmuda, cria, acrescenta novos contingentes a cultura recebida.

RESUMO

Ao que tudo indica, as ciências das Relações Humanas, somente em nosso século é que tem sido despertada para uma maior pesquisa e aprofundamento.

O objeto material das Relações Humanas, é o estudo das diversas relações mantidas pelo homem, quer a níveis de grupo, quer a níveis de indivíduos.

Um bom programa de Relações Humanas, além do estudo específico da matéria, deve contar ainda, um bom esquema de estudos sobre a pessoa humana, sua formação psicológica e sua vida social.

Geralmente o que somos, é uma resultante tanto da nossa herança, como do meio onde tivemos o nosso desenvolvimento.

A integração no meio social é imprescindível para a própria vida do homem e este geralmente se integra, na medida em que responde aos estímulos que lhe são feitos em sua comunidade, e na medida que ele assimila tais estímulos na constituição de sua personalidade.

Vemos assim, que a ciência das Relações Humanas, ganha em nossos dias uma importância cada vez maior. Isto porque em um mundo tão superpovoado quanto o nosso, o sucesso ou o fracasso de um homem, depende do seu relacionamento com o seu semelhante. O sucesso de uma nação depende do seu relacionamento com outra nação, e assim, do relacionamento de uns indivíduos com outros, é que depende o bom relacionamento em todos os níveis dentro de uma sociedade.

RELAÇÕES HUMANAS NA FAMÍLIA

INTRODUÇÃO

Não há dúvida de que é na família que o indivíduo trava os seus primeiros contatos sociais. Além de o indivíduo herdar fatores sociais dos seus progenitores, ele ainda aprende e apreende durante a sua infância, os principais traços sociais dos seus familiares, isto é, dos pais e irmãos. Assim é que provavelmente os estudos de Relações Humanas têm suas raízes bem fundamentadas dentro da família.

O FIM DA FAMÍLIA

À proporção que um grupo social se liberta da preocupação com a criança, mais ele se torna instável e insustentável como grupo social. Quanto mais um grupo social se envolve com as necessidades da criança, mais desenvolvido e importante tornar-se este grupo. Pois o instinto mais intenso e imutável no homem é o instinto de conservação da espécie. E se a criança é decorrência natural destas atividades instintivas e primárias do homem, a criança é facilmente tomada como base para uma classificação sociológica. Giddings, falando em “consciência da espécie”, deu um especial relevo ao instinto da reprodução. Desta forma, a família para nós, seria um grupo primário por excelência, mais estável e importante. Sendo a sua importância atribuída ao futuro da espécie humana.

Voltemos um pouco no tempo, e no princípio encontraremos a família como sendo o estado, e o estado como sendo a família. A comunidade social se confundia e se originava na família. É bem verdade que grupos modernos têm negado a importância da família para o indivíduo, mas ainda hoje, ela continua sendo “o esteio da sociedade”.

EVOLUÇÃO SOCIAL DA FAMÍLIA

No princípio a comunidade carecia de forma definida. A família era o Estado e o Estado era a família; a Igreja era o Estado e o Estado era a Igreja; a comunidade primitiva isolada se mantinha única, sem distinção de princípios nem separação de associações com todos os seus elementos da vida social, sem, no entanto lhe dar uma configuração social. A base ostensível da sociedade podia bem ser o parentesco ou a adoração de uma deidade comum, porém, a base real era a tradição homogênea que se estende a todas as gerações e relação da vida, a família. Dentro do quadro cultural vejamos o que diz Maclver em seu livro “Comunidad”, sobre a família.

Poderá aparecer a primeira vista curiosa a afirmação de que a associação familiar se fortalece e purifica a medida que se faz diferenciada dentro da comunidade”.

Embora este conceito seja muito elástico porque enquadra diversos campos de estudo: o Direito, a Religião, a Antropologia, o conceito de família, tem interesse especial para a Sociologia. Basta dizer que na classificação dos grupos sociais, a família ocupa o primeiro lugar. Diz-se que “a família imediata ou biológica, que consiste em pai, mãe e filhos, é a mais importante e definida de todas as instituições, e a única que se encontra em todos os grupos de povos”. Este conceito é de Eliot. Vamos transcrever aqui, algumas classificações de Família de Eliot e Carleton:

  1. Conceito de Eliot: “A família é o agrupamento humano básico, achado em todos os níveis de complexidade tecnológica, desde que é formado com base em fatores antes biológicos que tecnológicos”.

  1. Conceito de Carleton: “A família é um sistema de grupos ou de indivíduos onde se realizam eventos aos pares, e bem assim, eventos de conjunto; os pais iniciam ação com os filhos, os homens com as mulheres, as mulheres com os homens, e filhos mais velhos com os filhos mais moços”.

O fim da família seria não apenas procriar – a promiscuidade seria bastante para isto – mas procriar seres humanos, educando-os não só física, mas espiritualmente.

Um homem tem de encontrar seu par em outro grupo ou seção, o que indiscutivelmente freia toda tendência ao isolamento familiar e abre uma brecha social. Assim, os tipos de ligações é que determinaram a evolução familiar.

Para Hobhouse: “As comunidades primitivas estão fundadas na exogamia e separadas entre si pela endogamia”. As normas da exogamia para Hobhouse são uma prolongação de um horror inato das relações incestuosas, e que aquela emoção se origina em último extremo no choque dos sentimentos, instintivos, de progênie e sexual. Sobre as bases da repugnância entre dois sentimentos atuam, depois, as ideias religiosas e as disposições sociais que as estendem a todos os grupos.

Malinowski e Seligman mostraram também esta incompatibilidade entre os sentimentos sexuais e de progênie e acham que sem estas normas que definem as respectivas esferas, a família não se teria podido manter como unidade e teria perdido um elemento essencial na manutenção da tradição social.

Westermarck acha que o homem não foi gregário sempre. Viveu em famílias separadas e só quando houve vantagens na vida gregária, pelo aumento das privações se uniu em tribos. “Devido a sua utilidade”. Westermarck distingue o instinto gregário, do instinto social. O primeiro é a tendência de viver conjuntamente a parte os laços da paternidade, conjugais e filiais. Os sentimentos de paternidade ou progênie são as causas do instinto gregário e dos impulsos sociais.

As formas mais primitivas da família que conhecemos nos revelam uma instituição independente, pois coincide, ou é quase idêntica à comunidade. Esta se mantém unida pelo espírito de Clã. A família protege, ajuda e vinga seus membros. Cada um destes é o guardião dos demais em termos completamente literais. Na Inglaterra, por exemplo, um indivíduo expulso da família, era um indivíduo perdido diante da sociedade.

A primeira forma de comunidade pode chamar-se família em sentido amplo, mas é uma família confusa. A significação da vida familiar é muito obscura. Vemos formas muito extremas deste obscurecimento entre os povos que adotam o “sistema classificatório” do parentesco no qual um homem chama pai, a todos os que pertencem a certo grupo, sem estabelecer uma distinção entre a sua mãe real e todas as demais, que podem ter casado com seu verdadeiro pai ou qualquer outro dos homens do grupo. Quanto mais pareça como grupo importante de parentesco, quanto menos possuirá intimidade e unidade. É significativo que os povos primitivos só dispunham de um termo para a família propriamente dita, que é parentela.

Novas condições econômicas rompem a autonomia econômica do grupo familiar; leis políticas mais amplas rompem o controle do chefe sobre seus membros, e o direito da família a vingança dos agravos cometidos contra ela, e, associado sito, uma religião mais profunda não pode continuar encontrando seu centro de adoração no altar familiar entre os lares e os penates da família.

Na vida moderna, na cidade densa, a família é levada a extremos de condições em relação às famílias antigas, pois são reduzidas a sua forma essencial: o grupo de pais e filhos. A autossuficiência da família é menor, pois os pais podem preparar o menino para que tenha êxito e ainda para que viva dentro de uma comunidade. Não podem vesti-lo diretamente, nem educá-los, nem curar seus males. Entretanto o menino vive bem mais alimentado, bem mais vestido e atendido que anteriormente. Segundo Bougle, quanto mais a família perdeu a extensão, mais ela ganhou em profundidade e instituição.

Em sua evolução, a família obedeceu à lei “da diferenciação e da condensação progressivas”. Nem sempre foi necessário habitação para que houvesse família. Nem tampouco consanguinidade. Mas sempre foi necessário que existisse direitos e deveres.

Ao clã totêmico sucedeu a família sobre “comunidade de nome compreendendo descendentes de um ancestral e os adotados. A adoção criava laços tão fortes como os laços de sangue”.

A família paternal germânica é a mais livre, dá direitos aos cognatos, isto é, parentes do lado materno, dá maior independência a mulher, dá comunhão de bens aos esposos.

A família moderna vem da família patriarca romana, de direito matrimonial e das ideias Cristãs. Durkheim diz que as ideias Cristãs vieram adoçar e humanizar as relações domésticas.

RELAÇÕES HUMANAS ENTRE PAIS E FILHOS

Por muito tempo se pensou que as pessoas nasciam ciumentas, autoritárias, sociáveis, tímidas ou introvertidas. É verdade que o indivíduo apresenta certas disposições, ou tendência para ser desta ou daquela maneira. No entanto, a educação que recebemos modifica ou reforça o nosso temperamento. E neste mister, o papel dos pais é de suma importância.

Recentes pesquisas de Psicanálise e de Psicologia Social colocaram em destaque o fato de a conduta dos filhos na escola e em cada ser, em grande parte, uma reação ao comportamento dos pais para com os filhos. Isto é a tal ponto verdadeiro, que foi constatado que a maioria dos problemas de comportamento, tais como a ausência de atenção, brutalidade ou instabilidade, são causados pela conduta e pelas atitudes dos pais. Já é lugar-comum a afirmação que existe mais “pais problemas” do que “filhos problemas”. É clássica a história de um menino que não ficava um instante parado no banco escolar, beliscava os coleguinhas, fazia caretas, rasgava cadernos e andava sempre desleixado. O Professor aflito aconselhou os pais do garoto a procurar um Psicólogo. Logo o Psicólogo descobriu a causa do nervosismo da criança: os pais brigavam entre si na frente dele; além disso, batiam nele de correia duas a três vezes ao dia, para tirar o “mau gênio”.

Desta forma, facilmente os professores descobrem que a causa dos problemas causados pelas crianças, muitas vezes é um reflexo dos problemas causados pelos pais as crianças. Vejamos alguns comportamentos de famílias, e suas influências sobre a vida dos filhos.

  1. Indiferença e Rejeição – A criança necessita de carinho. Para ela, o carinho é uma necessidade imperiosa. No entanto, existem pais, que se recusam sistematicamente a dar este importante alimento espiritual para seus filhos.

É o caso, por exemplo, da senhora que nunca consegue pegar a sua filha no colo. Sempre tem um desculpa, tem muitos afazeres. O fato é que sempre a filha a procura, em busca de uma atenção ela procura fugir. Se se perguntasse por que, provavelmente ela não saberia responder, porque se trata de uma conduta de origem inconsciente, que também necessita de tratamento especifico, como ciúmes da filha. O resultado deste tipo de comportamento por parte dos pais, é que terão seus filhos angustiados, sempre procurando carinho fora do lar. Quando estas crianças se tornam adultas, são geralmente insatisfeitas, sempre procurando mais do que recebem. Isto é uma verdade comprovada pelos psicólogos, o que nos prova à responsabilidade dos pais.

  1. Pais Superprotetores – Esta é uma atitude oposta àquela que analisamos. Em vez de não dar atenção e carinho, superprotegem os filhos, não lhes deixando um minuto de sossego.

Quando estas crianças entram para a escola, em contato com os colegas e com o regime de tratamento de igualdade entre todas estas crianças não conseguem uma adaptação. Ficam tímidas, retraídas e muitas vezes não conseguem aprender.

  1. A Brutalidade – Acostumados que estamos a orientar adolescentes, tivemos contatos com muitas famílias e em todos os psicólogos (e nós), sempre encontramos crianças e pais que tratam seus filhos, como se tratam animais.

Este tipo de comportamento da parte dos pais traz várias reações diferentes. Ou a criança passa a imitar os pais e bater nos colegas, ou então se tornam grandes tímidos.

  1. Pais Rígidos e Autoritários – Muitos pais tomam posições de não admitirem erros dos filhos. Qualquer falta é imediatamente apontada e a criança merece um castigo.

Crianças tratadas assim tornam-se rapidamente vítimas de complexo de inferioridade. Também se desenvolve nelas complexo de culpa, medo e atitudes permanentes de expectativa de fracasso.

  1. Pais Democráticos – Dar carinho quando é necessário, louvar o esforço e recompensar a criança quando agiu certo é atitude de muitos pais que conseguem com isto que seus filhos cresçam num ambiente de compreensão, calma e respeito.

Este tipo de educação leva a criança a ser um adulto equilibrado e firme em seus propósitos.

RESUMO

A natureza das relações entre Pais e Filhos se transmite de geração em geração; existem tradições de brutalidade, de autoritarismo, enfim de tudo aquilo que os antecede com os antepassados e que por vezes, passam a fazer parte da bagagem hereditária do indivíduo.

Grande é a importância da família, tendo sido ela, e sendo ainda em nossos dias, o principal grupo social, a primeira escola de sociologia na formação do seu povo. No entanto é bom frisarmos que longa foi à jornada percorrida pela família, para se chegar aos dias atuais; desde as formas em que o Estado se confundia com a Família, e esta com o Estado, até os dias de hoje, quando a família é a célula mater da sociedade.

PRÁTICA DE RELAÇÕES HUMANAS NA FAMÍLIA

INTRODUÇÃO

Um lar feliz! Três palavras pequenas, mas que são muito significantes para o futuro da família, e da Pátria. Pois a verdadeira prosperidade de uma nação depende não somente de seus recursos naturais e econômicos, mas também de seus cidadãos probos, felizes e respeitados. E para conseguir tais, é imprescindível que tenham nascido num ambiente de afeto, segurança e dignidade.

Alguns pensam que é a riqueza que vai garantir a felicidade do lar. Não é verdade, embora a riqueza tenha fins desejáveis e legítimos em sua devida proporção, não são indispensáveis para a estruturação da família. Basta que leiamos biografias de grandes líderes intelectuais e espirituais do mundo para nos convencermos desde fato. Lincoln o grande emancipador, Thomas Edison o inventor, Beethoven o músico, o casal Curie descobridores do radium, Wesley o fundador do metodismo, e muitos outros, que nasceram em lares pobres, mas que enriqueceram a vida da humanidade com as suas vidas. Assim, provamos perfeitamente que a riqueza é útil na vida familiar, mas não imprescindível na formação dos filhos. Também aqui, podemos situar também a questão do Status Social, que muitos acham de grande importância na formação de uma prole saudável.

Só existe um alicerce permanente e seguro para a boa formação da família, o amor sacrificial entre marido e mulher, amor que não inveja, que suporta erros com paciência, que perdoa sem ressentimentos, que confia, que compartilha e que carrega os pesos que surgem no dia a dia.

SER MÃE

Para analisarmos o papel de mãe, vejamos primeiramente o que diz uma bela poesia de Ricardo Omar da Silva Azevedo.

Ser mãe é ter ao peito transbordando, toda a ternura, todo o sentimento; viver ora sorrindo, ora chorando, um misto de prazer e sofrimento”.

Parece muito fácil, à primeira vista definirmos uma mãe e sua missão. Poder-se-ia colecionar volumes inteiros de poesias e panegíricos dedicados às mães. Todavia nenhum por si só, nem todos em conjunto, encerram a verdadeira definição da missão da mulher como mãe.

Infelizmente, sobre esse assunto persistem duas ideias errôneas, e muito generalizadas: uma, que o simples fato da maternidade física constitui por si, um laço indissolúvel entre mães e filhos, e outra, que a maternidade não exige preparo especial, pois qualquer mulher ao tornar-se progenitora, adquire ipso facto, os atributos duma boa mãe e a perícia necessária para criar, guisar e educar os filhos. Deveras, o amor de mãe, além de ser uma das virtudes mais belas do universo e mais digna de louvor, é surpreendente que a ideia de preparo para a maternidade, não tem recebido a atenção devida, pelos educadores e pela sociedade. Em nenhum empreendimento ou preocupação, se entra com tão pouca reflexão e tão grande falta de preparo como nesse de criar e educar filhos.

Pode a mulher, ter o melhor preparo possível do ponto de vista intelectual, no entanto falhar na missão de mãe. Disse certo professor que ele conhecia muitas mães cujos filhos eram bem vestidos, bem lavados, bem ralhados e bem castigados, mas nunca estimulados ou influídos ao bem.

Uma mãe precisa, acima de tudo, saber julgar o valor relativo dos muitos serviços que deve prestar as crianças, e tendo isto em conta, saber dividir as suas vinte e quatro horas. O educador Stanley Hall disse: “para que a criança se torne civilizada, é necessário ter sido primeiro um bom selvagem”. E as mães, que já avançaram a idade da civilização, precisam de muita paciência para com os filhos, quando em forçosa lei natural, eles atravessam a exuberante e irritante época da selvageria.

Uma boa mãe, também deve saber simpatizar com os filhos, interessar-se nos seus estudos, brinquedos e amizades. Reconhecerá que para a criança o brincar não é mero passatempo ou divertimento, mas o próprio viver.

Uma boa mãe, também cultivará a serenidade e o domínio próprio. O Filósofo grego Platão dizia: “O melhor modo de governar as crianças é governar a nós próprios ao mesmo tempo; não as admoestando, mas pondo em prática os nossos próprios princípios”.

Para finalizar a importante tarefa que acarreta ser mãe vamos registrar aqui, o que diz um poeta desconhecido:

Ó mães que embalais os filhos com olhar de amor profundo, devagar, num berço às vezes, anda o destino do mundo”.

SER PAI

Uma casa que não abriga um lar, um (que) espiritual tecido pelo pai, a mãe e as crianças em conjunto, é como a concha vazia atirada a praia, um objeto morto do qual se evolou a rica esperança da vida”, (Angelo Patri).

Existe um tredo conceito no mundo, de que um bom pai, é aquele que alimenta, veste e paga o colégio dos filhos. No entanto talvez seja esta falsa perspectiva do que seja um pai, que tem causado tantos desajustes na sociedade. Geralmente as mães, é que recebem esta incumbência de educar os filhos. São geralmente três motivos que levam os pais a delegar essa responsabilidade às mães: a irreflexão (pois foram criados pensando que esta obrigação era toda das mães); a preguiça e a indiferença. A maioria dos pais, certamente cai na primeira categoria, e tão logo descobrem a sua parte na educação dos filhos, assumem a sua responsabilidade.

Uma vez convencido de que a coisa mais importante em todo o mundo é seu filho, e no filho a coisa mais importante é a formação de um bom caráter, o pai encontrará meios de solucionar em grande parte, estes problemas.

Para aquilatarmos a importância da problemática levantada pela participação dos pais na educação, e sua importância para formação do povo, vejamos o que diz Theodore Roosevelt, pai de seis filhos, “os problemas de amor e confiança entre pais e filhos, são fundamentais a nossa vida nacional. Todos os problemas sociais da vida social serão solucionados se os cidadãos forem educados no mais alto grau de que são capazes; se as nossas relações sociais em família forem corretas”.

Também, os pais se esquecem da importância que a sua atenção representa para o próprio filho, assim é que vemos claramente nesta citação de Mansfield, quando ainda era pequeno “como seria bom se o papai tivesse nascido menino como eu, para brincar comigo todo o dia”.

Enfim, o pai precisa ser o mestre que o filho espera que ele seja. O grande educador Angelo Patri, conta a seguinte história em que reflete bem esta importância dos pais:

O filhinho dum pai que sempre se mostrara preocupado demais com seus negócios para prestar-lhe muita atenção, estava veraneando numa praia com a mãe. Os seus amiguinhos mais íntimos, eram filhos de um juiz que vinha passar todos os fins de semana com a família. Nesses sábados e domingos, as crianças nunca iam dormir cedo, mas ficavam de pé, para poder brincar com o pai, que na roda familiar, perdia toda a seriedade de sua posição de Juiz. O menino visitante, sedento, dum canto do sofá, as brincadeiras do juiz com os filhos, fascinado demais para perder um só dos seus gestos, mas tímido demais para participar dos folguedos. Nunca vira um pai desses! Chegando a casa, o menino sereno e meio triste perguntou à sua mãe: Mamãe acho que Deus há de ser como juiz não? Só que Ele há de ser muito, muito maior… O menino percebera uma grande verdade. Não é, de fato como Deus que os pais devem ser?”.

RELAÇÕES PAIS-FILHOS

Enquanto o caráter das relações humanas se desenvolve habitualmente sob o signo da permuta, o caráter particular das relações pais e filhos é terem um sentido único. A criança, com efeito, nada pode dar, só pode receber, tanto no terreno material como no espiritual. No começo, os pais tem por mister quase exclusivo, satisfazer as três necessidades primordiais da infância: segurança, ternura e atividades livres.

Esses três elementos indispensáveis são distintos, mas cada um deles especifica e completa os dois outros. Efetivamente a criança não tem a sensação de verdadeira segurança se não se sente amada e se não pode expandir a sua atividade natural. Do mesmo modo, uma ternura que não tranquiliza, e se põem em choque com uma livre expansão motora, “às vezes em nome de uma falsa segurança”, não pode ser considerada como uma ternura que satisfaça a criança. Quanto à independência de atividade, esta só pode desenvolver-se num clima onde os dois outros fatores são respeitados.

Vê-se que a segurança, a ternura e a atividade necessária à vida da criança, precisam ser definidas.

A segurança refere-se muito mais ao aspecto moral, que ao material, uma vez que é necessário que as crianças façam experiências, o que fatalmente acarreta pequenos riscos. A criança só se sente em confiança, quando esta certa da estabilidade do seu universo, do amor dos seus e da coerência dos regulamentos que lhe impõem. O sentimento de força e sabedoria dos pais é uma garantia para ela, servindo pode-se dizer, para justificar a autoridade dos seus educadores, uma vez que esta autoridade, quando é justa e razoável, é um fator de segurança para a criança. A criança deseja ser amada, mas não é preciso que seja oprimida por esse amor, porque às vezes ternuras se esmagam, por serem terrivelmente possessivas.

É com os pais que a criança faz a experiência dos primeiros contatos com outrem, experiência que no decorrer do tempo sofre algumas transformações. Poderíamos distinguir três períodos nas histórias das relações de um indivíduo. Período inicial, que corresponde à primeira idade, a mãe conta sozinha para ele, porque lhe representa tudo; segundo período, quando a criança descobre a entidade formada pelo casal, seus pais; e o terceiro período de atitudes da criança: aquele em que a sua personalidade se afirma, em que ela aspira a independência, considerando, porém, laços consistentes em relação aos pais.

Durante a “idade materna”, a criança participa intimamente da vida da mãe. É o que explica o caráter trágico da perda da mãe nessa época do desenvolvimento.

O doutor Spitz, em suas observações sobre a influência do comportamento materno, estudou ao mesmo tempo certas manias da criança pequenina. Por exemplo, existem algumas que dão para balançar-se num movimento incansável e rítmico, com ar ausente e olhar vago. São quase sempre crianças pobres, abandonadas em asilos onde não recebem o afeto maternal, mas somente os cuidados materiais por parte das “tias”. Outras mostram prazer em brincar com os próprios excrementos, brincadeira essa que as absorve a ponto de tirar-lhes o interesse pelo mundo exterior.

O doutor Spitz, pode estabelecer a relação entre essas crianças e suas aberrações de condutas, a ausência de atitudes da mãe.

Depois a criança chega à descoberta da existência do casal, e agora as suas relações vão se dar no âmbito familiar, no circulo familiar, e não somente de participação da vida materna. É o momento do “complexo de Édipo”. É necessário compreender, que não se trata de uma crise patológica, mas de uma fase inteiramente normal no desenvolvimento da criança.

Este percebe, com efeito, que existe outrem que participa na vida da sua mãe, que existe um laço misterioso entre o pai e a mãe. As relações da criança que vê os pais abraçarem-se são a esse respeito características: primeiro, mostra certo desagrado, e tenta interpor-se entre os dois para receber um beijo de cada lado. Chega, porém a hora, que a criança se decide a favor de um ou de outro, e marca a sua preferência. Desenvolvem-se nesta fase dois sentimentos em relação aos pais e de maneira distinta por cada um: predileção por um e certa agressividade pelo outro. O amor exclusivo, que a criança fixa nesse momento por um dos pais, chega ao ponto de desejar por vezes a separação dos dois. A criança torna-se tirânica, exige que a porta do quarto dos pais fique aberta durante a noite. Quer que a sua pessoa seja o único vínculo existente de afeto entre os pais. Geralmente esta fase é muito dramática para a família e em especial para a criança, que não entende os vínculos existentes entre seus pais.

O final do ciclo de relações, podemos assim dizer, da criança com seus pais, se dá quando a criança adquire progressivamente uma personalidade independente, e alarga os seus horizontes sociais. Para que isto aconteça, a situação edipiana precisa estar superada, pela identificação com o rival amado. A identificação a princípio dinâmica masculina ou feminina, personificada pelo pai, ou pela mãe implica numa aceitação provisória da superioridade do modelo, que não exclui ao mesmo tempo, certa rivalidade. O filho quer primeiro imitar o pai, mas depois tanto quanto possível quer superá-lo.

Durante este período que antecede a puberdade, a criança acumula experiências que lhe servirão mais tarde. Começa a julgar os que a cercam. É preciso que os pais neste momento, se conformem em perder a “divindade”, e a criança deve ser ajudada a renunciar sem sofrer ao mito dos “pais irrepreensíveis”. É extremamente difícil julgar e criticar alguém, sem cessar de amá-lo. É preciso conciliar as duas exigências: não deixar de amar e não ficar obnubilado pelo próprio amor. Compreende-se que, para certas crianças a crise seja muito grave, ainda que salutar. Porque as crianças que ficam esmagadas pelo sentimento da superioridade dos pais, renunciam a progredir, tão inacessível lhes parece à meta atingida.

Essa crise dá margem a um jogo de sentimentos muito complexos. Por isso, uma certa agressividade no meio da família é o penhor necessário e saudável da união profunda que existe entre seus membros. Cita-se o exemplo de uma família “anormalmente” unida, onde nunca houve uma desavença. Ao serem interrogados separadamente, cada um dos filhos confessou o sonho de casar no estrangeiro; a reação de agressividade recalcada transformando-se em reação de fuga.

A afeição que se tem aos membros da família é muito diferente de uma dependência estrita e total. Os pais deveriam poupar aos filhos o caráter doloroso dessa descoberta, a fim de favorecer neles uma verdadeira libertação que traduza um harmonioso desenvolvimento físico e psíquico.

RESUMO

É cientificamente provado que o ser humano tem uma certa e significativa disposição para viver em sociedade. Dai porque estas pessoas, os indivíduos se juntam ou procuram se ajuntar na formação de um lar.

Quando o lar é formado, os formadores certamente aspiram por um lar feliz. Aspirações estas que na menina, e às vezes no menino, vem de longa data, desde a infância.

Os lares são formados, partindo de dois elementos imprescindíveis: o pai e a mãe. Cada um desses desempenham papéis distintos mais relacionados na formação, educação e desenvolvimento dos filhos, desempenhando funções que muitas vezes, e geralmente se estendem por toda a vida do filho. A mãe é importante como elo do primeiro contato social da criança. O pai é importante porque garante este elo de continuidade entre os progenitores e os filhos, na medida em que coopera com a mãe, na segurança e manutenção do lar.

As relações humanas entre os pais e os filhos, tem geralmente uma importância muito maior do que lhe é atribuída por aqueles que se prestam a organização de um lar.

Geralmente a vida social mantida pelos pais, reflete de maneira muita profunda na vida dos filhos. Assim é na infância, na adolescência e por toda a vida do filho.

O amor e a atenção que os pais dedicam aos filhos devem ser cuidadosos e dosados, porque um dos extremos para mais e para menos pode causar traumas irreconciliáveis para o psiquismo da criança ou do indivíduo componente do grupo familiar de um modo geral.

RELAÇÕES HUMANAS NA EDUCAÇÃO DA FAMÍLIA

INTRODUÇÃO

Houve quem dissesse que a educação da criança estava terminada aos quatro ou cinco anos de idade. No entanto, muitos são os fatores que nos leva a afirmação de que a educação das crianças, já está terminada na realização do casamento dos pais, pois, deste então, todos os determinantes que influenciarão na educação da criança, já se encontram fixados.

Devemos considerar, porém, sem exagero, que a educação da criança inicia-se no lar. É com sua mãe que ela aprende os primeiros passos, e é com seu pai que aprende as primeiras letras e vice-versa. É no lar, que a criança aprende a amar, a respeitar, e onde ela ensaia ainda seus primitivos conhecimentos de justiça e solidariedade. Dai, porque daremos alguma importância em nosso trabalho da educação na infância, e dentro do universo familiar.

DO UNIVERSO FAMILIAR AO UNIVERSO ESCOLAR

A criança que pela primeira vez transpõe o limiar da escola acontece: será que damos conta? Uma aventura tão surpreendente quanto a que poderia suceder a um adulto, que sozinho fosse levado para outro planeta. Mudar de universo é verdade que tem as suas vantagens. Mas nem todos nascem com vocação de exploradores, e diante do desconhecido “a escola”, qual a criança que não apresentará receio?

Tomemos por exemplo, um garoto chamado Jorge Durand. Em seu lar, ele é pequeno, indefeso, mas é o centro das atenções. Jamais ele imagina que no mundo, existem muitos outros “Jorginhos” da sua idade, e que estes “Jorginhos”, também se acham com direito de receber tanto carinho, proteção e atenção quanto ele. Anão entre os gigantes da sua família, mas que tem o seu lugarzinho garantido no coração de cada um daqueles gigantes, que estão sempre prontos para defendê-lo. É verdade que em casa, ele às vezes tem de submeter-se a disciplina dos pais, mas estes, seus pais, tem a vantagem, de se for o caso, mobilizarem todas as suas forças para defendê-lo.

Ora, ei-lo a entrar para o colégio! E com uma transição um pouco brusca, nosso “Duranzinho”, passa a ser conhecido entre os alunos do mesmo modo que os adultos da sua família, “Durand”. Nem se sentirá ele, mais único e nem insubstituível. É talvez o único Durand da classe, no entanto ele sabe que não passa de uma insignificante amostra da espécie Durand. De mais a mais, os que o rodeiam, não se sente inclinados a uma admiração, por ele ser um Durand. Desabam os muros protetores habituais. Enquanto ele tenta se agarrar ao universo familiar, mas fica a mercê das zombarias de certos camaradas que costumam desprezar os fracos ou talvez, reforcem as próprias energias, triunfando facilmente dos que lhe parecem mais tímidos que eles próprios.

O primeiro movimento do novato é procurar carinho e afeição junto ao professor, porque esse, imagem do pai ou mãe lhe causa menos receio do que os “semelhantes” que lhe parecem tão estranhos, justamente porque talvez encontre neles a própria imagem, embora obedecendo a impulsos que não coincidem com os seus e mesmo se opõem a eles. Tudo o que era para ele absoluto, vacila então.

As escolas maternais e os jardins de infância são meios preparatórios para essas revoluções externas e internas que apesar de necessárias, são, todavia embates dos quais nem sempre o herói sai triunfante. Certas perturbações, sobretudo gagueira tem lugar no momento dos primeiros contatos da criança com a escola. As primeiras impressões escolares podem também influir às vezes, sobre o desenvolvimento posterior dos estudos. Quando a criança tem uma má iniciativa na leitura, na escrita ou na tabuada, atribuindo aos métodos pedagógicos dos primeiros professores deficiências que persistem de suas relações com os outros na sua iniciação escolar.

COMO PREPARAR UM FILHO PARA O COLÉGIO

Sempre mostrar o colégio como algo de agradável, onde há muitos amiguinhos e onde ele vai aprender a ler e a escrever.

Quando se tratar de Jardim de Infância e a criança estiver muito ligada a mãe, o psicólogo americano Gesell recomenda a mãe ficar perto da sala no primeiro dia, ou então deixar algum objeto (bolsa, lenço), afim de assegurar a criança sua volta.

Se for possível arranjar um amiguinho que já frequenta a escola a fim de acompanha-lo e mostrar-lhe as acomodações, lugar do recreio, etc. Se isto não por possível convém que os próprios pais ou o orientador do colégio introduzam a criança e procure ambientá-la.

Convém nunca esquecer que qualquer ambiente novo, constitui algo novo e por isto, gerador de desconfiança e de angústia. A escola é um ambiente novo. Por isso os primeiros passos são extremamente importantes, e devem ser cercados tanto por pais, como professores de cuidados especiais, sem os quais a própria relação da família com a escola corre o risco de serem prejudicadas seriamente direta ou indiretamente.

EDUCAÇÃO SEXUAL NAS RELAÇÕES FAMILIARES

Eram duas professoras novas recém-formadas, muito amigas. Estavam conversando enquanto seus primogênitos, de cerca de quatro anos de idade brincavam. Eles se afastaram delas, e só depois de alguns minutos as mães deram falta dos pimpolhos. Foram procurá-los. Estava o casalzinho na garage da casa e falavam baixinho. Curiosas, pé ante pé. Foram as mães espiar as duas crianças. O garotinho estava ajoelhado espiando a amiguinha que de pé sem a calcinha, se prestava calmamente a contemplação…

As mães encabularam. As crianças não. A mãe da menininha ficou zangada – “Olha rapazinho, eu sei que você faz isso porque quer saber como é menina. Mas quando você quiser ver, venha procurar-me, pois tenho umas revistas próprias. Se eu te pegar fazendo isto outra vez, dou umas palmadas, ouviu?”.

Retiraram-se todos em direção a casa. Fisionomias zangadas, as mães foram entrando. Eis que o garoto muito apressadamente pede: “Titia quer me mostrar agora a tal revista que você tem?”.

Concluímos assim, que não existia maldade no ato daquela criança. E geralmente não existe maldade nesses atos infantis. Para o garoto ficar olhando a pequena, era o mesmo que ficar olhando um avião nas nuvens.

Educação sexual é a instrução relativa às funções e mecanismo dos órgãos sexuais. Mais a compreensão e a finalidade destes órgãos, é um trecho de educação, como o é também a educação cívica ou artística. É tão indispensável falar a criança sobre o perigo que a ameaça num banheiro público, como é indispensável falar-lhe sobre o perigo que a ameaça atravessando a rua sem olhar para os lados.

RELAÇÕES HUMANAS NO ENSINO RELIGIOSO NO LAR

Quando se perguntou a Daniel Webster, notável estadista norte americano do século dezenove, qual o mais elevado, mais impressionante pensamento que já lhe viera, ele respondeu: “O pensamento de maior influência da minha vida, tem sido o da minha responsabilidade pessoal para com Deus”.

Qualquer trabalho sobre relações humanas no lar, faltaria no principal senão tratasse em algumas de suas partes da responsabilidade dos pais, em ministrar aos filhos, o ensino religioso, sistemático. Antes, porém discutiremos o que se considera ensino religioso. Para alguns, a religião é matéria divorciada da moral e consiste tão somente em assistir aos cultos e observar as festas e ordenanças da sua Igreja. Ensino religioso do ponto de vista desses seria simplesmente guiar os filhos a observância de tais preceitos. Já outro grupo acha que os deveres ritualísticos não carece de mais importância, e religião consiste apenas na inculca de padrões morais e éticos, sem relação nenhuma a atitude da criança para com Deus. Para outros ainda, a religião vai muito além disso, devendo oferecer uma experiência pessoal e profundamente espiritual que motivará os atos mais rotineiros da existência e levará a alma a sentir o seu parentesco com o divino, aquele espírito pelo qual, percebemos que somos verdadeiros filhos e herdeiros do Pai Celeste (Gálatas 4:6 e 7) e portanto, incapazes de certas indagações e violações morais.

Grande parte da dificuldade desaparece quando consideramos a religião como a força ou experiência que nos revela esta força ou relação para com Deus, e que nos impele a dirigir a vida de acordo com a sua vontade, conforme nos foi revelada pelo seu filho Jesus Cristo. Tal definição nada tem a ver com rituais, cerimônias, proibições ou dogmas teológicos, nem com o decorar de catecismos e fórmulas, ou até da Bíblia Sagrada, pois nos diz a mesma que o próprio diabo conhece as escrituras.

Implica antes em semear nos corações das crianças as qualidades divinas, o amor de Deus e aos seus semelhantes, a coragem moral, a paciência na aflição, a magnanimidade ante a calúnia e a perseguição, a incorruptibilidade ante a tentação e a pureza no ambiente lascivo. E harmonizando todas estas qualidades, elevando-as acima da ética, vivificando-as, por assim dizer uma fé singela e profunda em Deus e seu filho Jesus Cristo.

Qualquer ensino religioso falhará em seu objetivo senão incutir força moral para divinizar o homem. E qualquer religião, que deixa de refletir na vida moral, social e econômica do homem torna-se motivo de escândalo, para os que se chamam Cristãos, desonrando o nome de seu Mestre.

Chegamos, pois a conclusão lógica, de que a religião não se ensina somente na Igreja, mas de que a família se constitui a mais poderosa força religiosa de uma sociedade, pois é dentro do lar que a criança pode aprender a prática das virtudes que são apregoadas no santuário.

Visitando algumas famílias, na cidade de Limeira, no estado de São Paulo durante o ano de 1978, depois de visitar cerca de 15 famílias, com um número variável de dois a seis filhos, todas estas citadas famílias de origem religiosa, pude comprovar depois de ouvir declarações dos respectivos pais e filhos, que o motivo de maior transtorno para os filhos é descobrirem que seus pais não cumprem em casa as suas obrigações para com Deus, e para com o próximo. A falta da prática religiosa dentro do lar leva a criança ao desrespeito para com os pais, e para com suas ordens morais. Leva a um rompimento da estrutura social-religiosa. A criança, e em especial o adolescente chega a dizer para o líder religioso: “Se a religião é de fato como você diz, porque papai e mamães estão sempre na Igreja e nos trata de um modo tão mal em casa?”.

Também em um artigo que li, na “Revista Raio de Luz”, onde um versado teólogo analisava o problema causado pelos filhos de pastores, e outros eclesiásticos, que abandonavam a religião era a alta da parte destes eclesiásticos, da prática doméstica, daquilo que eles praticavam no púlpito.

Assim vemos que os pais, com seu comportamento doméstico são responsáveis pelas manifestações hodiernas de indiferença religiosa, ateísmo, e hostilidade à religião por parte de seus filhos, pela falta, com que praticaram a religião no lar, levando os seus filhos, para estes extremos religiosos.

Convém, pois que os pais sejam conscientizados da sua importância na vida religiosa dos seus filhos, e façam a contribuição devida ao desenvolvimento espiritual dos seus filhos, reconhecendo que esta responsabilidade não pode de modo algum, serem delegada única e exclusivamente as Igrejas ou Igreja.

De fato, um ilustre pastor do Evangelho em nossos dias disse em sua pregação que: “Os lares, devem comportar-se tal como uma pequena Igreja de Jesus. Que cada lar Cristão tem esta responsabilidade de Igreja, e que é no lar, que os filhos aprenderam a desempenhar o seu papel, dentro do corpo do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.

Escreve Henry Frederick Cope, conhecido mestre de psicologia juvenil e ensino religioso no lar: “Não há só um momento em que o caráter das crianças não esteja sendo formado, ou para o bem, ou para o mal. Deduz-se, portanto que a sua educação religiosa nunca para, mas continua todas as horas do dia. Essa educação não deve ser um incidente na vida do lar, deve ser o alvo, o propósito dominante numa família de princípios elevados…” Isto é claro , inclui o objetivo por parte dos pais, de procurar fazer com que seus filhos nas palavras do apóstolo Paulo atinjam a estatura da plenitude de Jesus Cristo.

COMO E QUANDO CASTIGAR

Não punimos um homem porque ele ofendeu a sociedade, mas para que não continue a ofendê-la. O castigo não deve contemplar passado, mas o futuro, não deve ser a expressão da ira, mas o meio de evitar a repetição da ofensa”. (Séneca)

O auto registra que é absolutamente contra toda e qualquer forma de castigo físico contra criança e todo ser humano. Contudo afirma que estabelecer limites com inteligência emocional é uma forma necessária e justa de se humanizar a criança e a pessoa humana em geral!

A primeira pergunta a fazer quando encaramos a administração do castigo deve ser: qual o objetivo em punir a criança?

Do ponto de vista de alguns pais, o castigo constitui a expressão de sua má disposição ou a satisfação dum espírito de vingança ou hostilidade, um “tu me pagas” juvenil e desobediência e rebeldia de seus filhos. Com outros pais, o castigo que dão, resulta de sua própria falta de madureza, experiência ou governo de si mesmos. Nenhum desses métodos encerra algo de construtivo e os lares, onde tais fazem parte da vida diária, tornam-se teatros de cenas desagradáveis, rixas violentas e conflitos. Não raro acabam numa derrocada nervosa e psicológica.

A maioria dos pais não castigam para vingar-se dos filhos. Concordariam com o grande educador norte americano, Horace Mann “O objeto do castigo é a prevenção do mal, nunca poderá servir de estimulo ao bem”; isto é, que o castigo só se justifica quando ajuda a criança a tornar-se cidadão capaz de viver harmoniosamente dentro do seu grupo social e reconhecer a sua obrigação para com Deus e seus semelhantes. Assim os pais devem fazer uma séria avaliação, para ver se é necessário castigar os seus filhos. Para tal, os pais devem ter em mente os seguintes pontos:

  1. Não ralhe com as crianças e nem as corrija na presença de alheios, nem ainda se queixe na presença delas de suas travessuras e malcriações. Isto é contraproducente, pois repetir constantemente, que o Juquinha é mentiroso, ou que a Celina é rabugenta e egoísta, não os induz a abandonar o erro e conforme a psicologia moderna parece intensificá-los na decisão de se mostrarem ainda mais mentirosos e egoístas;

  1. Quando um castigo foi prometido, não o adie indefinidamente, ameaçando a criança dia após dia com a sua execução. A certeza do castigo e a prontidão com que é dado, evita a repetição do ato;

  1. Não se deve castigar negando-lhes algum passeio ou outro prazer que fora anteriormente planejado e prometido. O fato dos pais não cumprirem com suas palavras, faz com que os filhos não confiem mais neles;

  1. Nunca se deve usar do temor para incutir obediência ou tirar a criança de um mau comportamento, pois isto cria na criança um profundo ódio, e torna-se um veneno para o corpo e para o espírito. Não se deve inculcar medo de Deus, uma vez que isto cria atitudes indignas e perigosas da criança em relação a Deus. Da mesma forma, não se inculca medo da polícia; do médico; de lobisomem nem medo da escuridão, sentimento que se deve evitar sistematicamente, porque prejudica a saúde da criança; e enfim, qualquer espécie de medo inculcado a criança, não raro, deixa a criança com sérios problemas nervosos, que nunca a abandonarão, nem mesmo como adultos. Outro castigo que deve ser rigorosamente proibido é o de trancar a criança num quarto escuro;

  1. Não se deve prometer castigo tão cruel ou severo, que o pai ou a mãe não possa levar a efeito. Também não se deve ficar dizendo frases como “mamãe não gosta mais de ti”, “o papai não te quer mais, vai dar-te ao lixeiro, ao bicho”.

A criança que se sente rejeitada pelos seus queridos, já está em caminho da delinquência e não raro, do suicídio.

Agora passaremos a ver algumas coisas que os pais podem usar no castigo dos filhos, sem que isto lhes cause prejuízos:

  1. Os pais em primeiro lugar podem recorrer ao método de tirar a criança do seu grupinho social, por algum Tempo. O grande teólogo Quesnel, do século 17, escreveu: “Não há maior castigo do que ser deixado a sós”. Isso influi grandemente nas crianças, frisando a desaprovação dos seus atos antissociais, ensinando-lhes que quem não quer viver em harmonia e colaboração, deve ficar fora da sociedade, por que esta é basicamente um grupo interdependente;

  1. Podem-se privar as crianças de algum privilégio especial que costuma gozar, como por exemplo, ir ao cinema aos sábados, ir ao parque, ou brincar com algum vizinho cada tarde;

  1. Exigir sempre que, de acordo com suas forças, a criança se responsabilize por aquilo que fez, limpando ou consertando aquilo que sujou ou quebrou.

Finalmente quanto ao castigo, existe muita delonga a respeito. O básico, é que os pais não devem ser injustos quando ao castigo. Não devem castigar simplesmente por irritação e devem levar em consideração que a criancinha, é uma criaturinha muito amada por Deus, que de certo lhe pedirá contas pelos seus excessos.

RESUMO

Sem dúvida nenhuma, o lar, é o berço da educação infantil. E desta forma, aquilo que a criança aprende no lar, é de muita importância para o seu relacionamento na escola, e em toda a sua vida.

Na verdade, a mudança de uma criança do lar para a escola, é algo muito complexo, tendo em vista que a criança sente medo, no ambiente escolar, e sente-se isolada, sem aquele cuidado e carinho que seus pais sempre lhe dedicam de uma maneira especial. Assim é que na ida do pequeno (a) para a escola, os pais devem acompanhar com especial cuidado.

A educação sexual é algo muito importante e deve ser encarado com especial cuidado por parte dos pais, para não ferir a inocência da criança. Tendo em vista, que ela é pura, e tudo é puro para os de coração puro. Assim, com especial cuidado, a criança deve ser educada na vida religiosa, aprendendo os principais aspectos sobre a pessoa, o amor e os atributos de Deus. Fazendo-a sentir em sua vida estes atributos.

Sobre o castigo, podemos resumir tudo na nobre frase de Séneca: “Não punimos um homem porque ele ofendeu a sociedade, mas para que não continue ofendê-la. O castigo não deve contemplar o passado, mas o futuro; não deve ser a expressão da ira, mas o meio de evitar a repetição da ofensa”.

Finalmente, podemos dizer, que a educação no lar levando em consideração as Relações Humanas Pais – Filhos é uma arte que deve ser cultivada, pois dela depende toda a sociedade, sua estrutura e sua sobrevivência.

A FAMÍLIA BRASILEIRA

INTRODUÇÃO

Tendo em vista a carência de material, no setor de pesquisas sobre Relações Humanas na Família Brasileira, resolvi acrescentar aqui, um pequeno estudo sobre a família brasileira, relacionando o seu sistema de vida, a sua realidade e a sua estrutura visando, uma base para estabelecer pesquisas no setor de Relações Humanas.

É provável que os estudiosos da família brasileira fiquem impressionados com a acentuada tendência de alguns sociólogos para a reconstrução histórica da nossa família. Em uma análise retrospectiva, e especialmente se levarmos em conta o passado colonial, veremos que a família brasileira se apresenta com uma estrutura patriarcal, complexa, essencialmente rural e de acentuada dominância da vida social. Tal característica era válida ainda, durante a primeira metade do século XIX, mas desde o tempo dos nossos avós, esta característica, não tem correspondido à realidade. Isto não somente significa que a família patriarcal da aristocracia rural deixou de existir, mas que muitas outras transformações se têm verificado dentro deste quadro, tido como caracterizador da família brasileira.

Não seria justo acusar autores como Oliveira Vianna e Gilberto Freyre, de não haverem percebido em seus estudos diferenças de estrutura em seus estudos sobre a família brasileira, tendo o caráter de suas pesquisas, que não atendiam a estes objetivos.

O fato é que tratadistas escrupulosos farão restrições à generalização sobre a família brasileira, feitas exclusivamente em termos de estrutura complexa e patriarcal porque não se sabe se a família das classes inferiores, que são maioria esmagadora no nosso País, é também estruturada naqueles termos, por eles utilizados.

Nessas pesquisas sugerem que, presentemente, a família das classes rurais inferiores é diferente em muitos aspectos da família de outras classes sociais. Insistimos que estas diferenças, hoje se acentuam tão profundamente do que estes pesquisadores puderam esperar.

ASPECTOS SOCIAIS DA FAMÍLIA BRASILEIRA

O namoro é estritamente vigiado pela família, que controla corporativamente a conduta dos seus membros. É difícil um moço ou uma moça conhecerem-se bem antes do casamento, porque em geral não podem estar a sós, desacompanhados. Depois do casamento, o marido assume o papel de pai autoritário e dominador. Não se espera que as mulheres casadas sejam companheiras para seus maridos, e sim mães devotadas e donas de casa abnegadas. Vigiadas por pais zelosos e maridos ciumentos as mulheres brasileiras são levadas a uma vida social reclusa, limitando-se somente a tomar parte na vida religiosa da comunidade. Aos homens, é permitido que gozem de todas as liberdades permitidas, até do excesso de liberdade. Pelo chamado “padrão duplo de moral sexual”, é socialmente aceitável que o homem mantenha relações sexuais adulteras ou pré-maritais, enquanto que tal prática é imperdoável à mulher.

Finalmente a família brasileira é caracterizada como grupo complexo e consanguíneo, mais do que como grupo conjugal, o que é ilustrado, que mesmo parentes muitos próximos, são unidos por fortes laços de solidariedade.

A FAMÍLIA BRASILEIRA NA CLASSE SUPERIOR E MÉDIA

A família brasileira nas classes superior e média pode ser interpretada como uma estrutura dialética, baseada em papeis assimétricos atribuída ao homem e a mulher. O papel da mulher tem como centro, ou núcleo de valores, o que podemos chamar de Complexo de Virgindade. A crença de que a mulher solteira deve preservar a sua virgindade a todo custo, tem resistido tenazmente a todas as mudanças sociais que tem abalado a nossa família. Isto está tratando de uma maneira geral, na verdade, em algumas cidades influentes como o Rio de Janeiro e São Paulo, onde sofrem mais diretamente as transformações que nos vem da América e da Europa, este quadro se apresenta de uma maneira diferente, como pequenas variações no esquema. Mas voltando o quadro anterior, existem inclusive sanções penais para as moças não virgens, como o direito de anular o casamento, garantido pelo Código Civil, por parte do homem que contrair matrimônio com uma moça nessas circunstâncias. Assim, a situação da mulher é tão precária, que desde que ela não tenha mais possibilidade de casamento, só lhe resta à situação indesejável de solteirona, perniciosa, de concubina ou prostituta. O fato de hoje, muitas mulheres seguirem atividades profissionais, não modificou muito o quadro. Posto que as mulheres que estudam ou trabalham, o fazem na expectativa de arranjar um marido.

Para a mulher brasileira, esta situação se complica, tendo em vista que o casamento não é a esperada libertação de inúmeras e segregacionistas restrições e premeditais. O que realmente se sugere, é que depois de casada, as mulheres ainda perdem muito das liberdades de solteira.

Hoje, embora grande desenvolvimento a mulher tenha conseguido em termos de direito, estes quadros discriminatórios não mudaram muito, tendo em vista, que o homem, é ainda considerado juridicamente o responsável pela família. O homem continua sendo ainda o único ouvido, o que demonstra a acentuada formação cristã, que marca a formação do nosso povo.

Até que ponto a família brasileira ainda é uma família numérica? Se o termo for tomado no sentido de residência em conjunto, pode-se dizer que, com exceção do tipo de família-tronco, a família numérica está desaparecendo rapidamente. Mas, no sentido de grupos solidários compostos de famílias nucleares aparentadas que residem na mesma localidade, a família grande está ainda, muito longe de extinção.

Quanto à solidariedade entre as famílias brasileiras, isto varia de um lugar para outro. Pois no Sul, é uma verdade que inexiste uma forma de ajuda de parentes mais ricos para com os parentes mais necessitados, não nos leva a uma dogmatização da causa, porque existem certas formas de proteção familiar e de ajuda em quase todas as regiões do País.

A FAMÍLIA BRASILEIRA NA CLASSE INFERIOR

Não existem muitas diferenças na vida familiar quanto ao sistema da classe inferior, para a superior e média. A forma de casamento, a cerimônia religiosa é sempre o padrão cultural preferível; mas, nas localidades raramente visitadas por padres católicos, o povo tolera as uniões livres. O casamento civil, geralmente é dispendioso e desprovido de significado.

Parece que não existe discriminação perceptível entre as mulheres sexualmente inexperientes e as que já se entregaram a relações sexuais. Por isso, a virgindade feminina, não é considerada como requisito de união estável e, consequentemente, as normas de vigilância e segregação dos sexos são menos elaboradas do que nas classes superiores. O casamento é relativamente instável. A iniciativa de romper os laços matrimoniais muitas vezes é tomada pela mulher, que em regra geral, não encontra dificuldade particular em unir-se a outro homem. Não se tem a família grande como padrão particularmente desejável. Especialmente no litoral, a solidariedade não é tão cultivada como nas outras classes.

Na verdade, a família da classe inferior no Brasil, ainda preserva muito de primitivismo e carece de características que marca a significação estrutural e funcional num agrupamento deste gênero. A frouxidão da estrutura de família, na classe inferior, está condicionada provavelmente ao fato de que não se distingue facilmente um foco na cultura dessa classe.

RESUMO

Conforme podemos perceber, existe uma dificuldade ainda muito acentuada no Estudo das Ralações Humanas na Família Brasileira.

Somente as famílias das classes médias e superior, realmente mantém o que podemos chamar de uma estrutura familiar organizada. As outras camadas, geralmente, não existem ainda esta estrutura do ponto de vista sociológico, tendo em vista que a imensidão do nosso território faz com que cada região, tenha um sistema de vida adequado às condições regionais.

Uma coisa fica patente na família brasileira. Ela é de cunho patriarcal, e existem fortes exigências da sociedade, no que concerne a virgindade da mulher. Havendo, porém, certa tolerância no fator da virgindade para as classes inferiores. A família brasileira é, portanto, organizada nos moldes patriarcais em todos os seus níveis sociais.

CONCLUSÃO

O surgimento da ciência das Relações Humanas, que nada mais é, do que a Psicologia Social Aplicada parece estar vinculada ao aperfeiçoamento da Psicologia e do próprio homem.

No estágio de desenvolvimento que o ser humano se encontra, tornou-se imprescindível o aparecimento de uma disciplina que não apenas caracterizasse ou entendesse o homem (o que já é muito), mas que fornecesse aos homens, elementos eficazes, para que a vida social pudesse ser controlada. Assim, as ciências das Relações Humanas, mesmo que ainda em sentido estrito, tem como objeto formal o estudo do homem. Homem e suas relações com o grupo. Homem e suas relações isoladas. Grupo e suas relações com o Homem. E em tudo, vemos que o objeto comum nas relações, é o homem e suas funções sociais.

Para uma compreensão exata da problemática levantada com o estudo das Relações Humanas, torna-se imperativo um conhecimento aprofundado do homem. Sua formação psicológica, social e biológica. Seu meio e sua família. Assim, um bom estudo de Relações Humanas, deve antes de tudo, fornecer a situação exata do objeto de estudo. Também é imprescindível um prévio conhecimento e delimitado campo que se vai trabalhar, por embora recente, inova a Revolução Humana, parece que está se especializando, e já a encontramos nas principais áreas da vida humana: trabalho, escola, família, etc.

Sendo a família a base da vida social do homem. Base como o principal elemento da sua formação, abordei, isto é, ventilei em meu trabalho as Relações Humanas na Família.

As Relações Humanas na Família, como a própria família, é de uma origem muito complicada, em suas funções sociais e remotas que podemos dizer, sem incorrer em exageros, que desde que existiu família, já existia Relações Humanas, de uma forma empírica, é óbvio, mas já existia.

Esta pequena pesquisa, veio atender uma das principais exigências da vida do ministro. Assim, concluindo, louvo ao Senhor nosso Deus, que instituiu as Relações Humanas, para o melhor cumprimento do seu grande mandamento, por seu filho Jesus: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vou amei…” (João 13:34).

BIBLIOGRAFIA

  1. BARCELLOS, Dra. Fernanda Augusta Vieira Ferreira – Pequeno Tratado de Relações Humanas – 2ª edição – Livraria Francisco Alves – Rio de Janeiro, 1960 – 207 páginas.

  2. BERGE, André – Como Educar Pais e Filhos? – Livraria Agir Editora – Rio de Janeiro, 1957 – 256 páginas.

  3. LONG, Eula Kennedy – Corações Felizes – 8ª edição – Imprensa Metodista – São Paulo, 1961 – 257 páginas.

  4. LIMA, Leonardo Ferreira – Relações Humanas e Personalidade – 2ª edição – Honor Editorial Ltda. – São Paulo, 1970 – 226 páginas.

  5. MINICUCCI, Agostinho – Relações Humanas na Escola – Edições Melhoramentos – São Paulo, 1966 – 130 páginas.

  6. SOCIOLOGIA – Escola de Sociologia e Política de São Paulo – São Paulo, Outubro de 1954 – 116 páginas.

  7. WEIL, Pierre – A Criança, O Lar e a Escola – Civilização Brasileira – 7ª edição – Rio de Janeiro, 1969, 184 páginas.

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